Conceber um novo conhecimento consiste
não só em absorvê-lo para obter sua compreensão, mas sobretudo em questioná-lo
para atingir a sua veracidade. Em defesa desse paradigma, Descartes inaugura em
“Discurso do Método” a modernização da filosofia, mas também inova ao propor um
novo caminho para concepção da verdade oposto à mera aceitação dos dogmas
estipulados pela sociedade feudal na qual se inseria. Analogicamente, hoje a
persistência de uma conduta moral pré-estabelecida a ser seguida atribui aos
homens o mesmo conflito pertinente à época de Descartes: ainda que dotada de
maior liberdade de expressão, a sociedade atual é inserida num constante
conflito entre o impulso de exercer suas próprias vontades e o anseio de uma
repressão futura vindo de forças sobrenaturais. Este caráter barroco, ainda
presente atualmente, atribui à oposição de ideias a dificuldade de obter a
verdade por essência. Tal oposição é revelada a partir dos diversos caminhos
existentes até o verdadeiro, representados na época do autor pelos filósofos
que defendiam o entendimento pleno a partir dos sentidos. Hoje, porém, as
diversas fontes que transmitem informações e a facilidade em distorcê-las
apontam para a permanência da necessidade da contestação. A dúvida constante,
não só nos afasta do falso e duvidoso, como também nos auxilia na elaboração
dos próprios pensamentos e questionamentos acerca de tal fato, encaminhando-nos
a uma concepção individual que nos afasta das outras pré-estabelecidas.
Como
caminho para a verdade, o duvidar nos torna humanos , mas priorizar a dúvida
afasta o homem da perfeição. Ora, duvidar revela a fraqueza humana ao conceber
o verdadeiro por essência, tornando-nos imperfeitos se comparados àquele que
nada duvida por ser naturalmente inerente à verdade original. Somente um ente
superior à nossa espécie poderia eliminar a etapa primordial da dúvida como
caminho para a verdade. Sob essa ótica,
Descartes atribui a Deus a incorporação do “ser perfeito”, aproximando-se novamente
do senso comum entre as populações ocidentais.
Como
diferenciação entre a espécie humana e o “ser perfeito”, a frase “Penso, logo
existo” não apenas condiciona a existência humana à sua capacidade de pensar,
mas também dá destaque ao uso da razão a partir da utilização da mente como
constante busca da verdade a fim de estabelecer o ser. Se o duvidar nos torna
humanos, o pensar concretiza nossa existência a atribui ao uso da razão o fator
principal na incansável busca pela verdade.
Luisa Loures Teixeira - Direito Diurno
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