A derrota da
metafísica
O assunto mais abordado nas discussões sobre
a obra “O
discurso do método”, do filósofo francês René Descarte, é a racionalização do
método científico advindo da ruptura com o misticismo vigente no século XVII.
Este preceito, denominado racionalismo cartesiano, foi, sem dúvida nenhuma, um
dos grandes marcos na evolução do pensamento ocidental, pois introduziu a
sistematização do conhecimento, gerou a intensa fragmentação dos objetos de
estudo e elevou a dúvida ao posto de motor propulsor do saber científico.
Não obstante os incontestáveis benefícios
adquiridos através do racionalismo de Descartes, nota-se no contexto
contemporâneo algumas chagas oriundas dessa corrente de pensamento. A
fragmentação dos objetos de estudo, por exemplo, elevou de tal forma a
especificidade das vertentes do saber, que os profissionais contemporâneos
tornaram-se hiperespecializados, em outras palavras, sabem muito de quase nada.
Contudo, as maiores perdas ocasionadas por
influência do racionalismo cartesiano ocorreram no campo da subjetividade
humana e da metafísica, pois ao romper com a filosofia clássica e centrar seu
objeto de estudo nas verdades racionalizadas, Descartes dá início a um processo
de progressiva valorização dos saberes palpáveis em detrimento às antigas
questões filosóficas fundamentais. Dessa forma, a ciência contemporânea está
muito mais interessada em produzir novas tecnologias e conhecimentos concretos
do que em refletir a respeito das questões primárias da metafísica. Afinal, qual a relevância de reflexões sobre o sentido da vida ou sobre início da existência humana em uma sociedade guiada pelo norte do racionalismo extremo e da vida matematizada?José Roberto Bernardo Bettarello - 1º ano direito noturno
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