Greve x Ordem
Greve segundo o Dicionário Houaiss é:
1 cessação voluntária e coletiva do trabalho, decidida por assalariados para obtenção de benefícios materiais e/ou sociais, ou para garantir as conquistas adquiridas e ameaçadas de supressão
2 cessação temporária e coletiva de quaisquer atividades, remuneradas ou não, em protesto contra determinado ato ou situação;
Auguste Comte, ao consolidar
a filosofia positivista, explica a greve não como uma patologia, embora maléfica
para a sociedade, mas como a expressão de uma patologia, de uma desordem. Por
isso, para ele, a função do estado não é reprimir essas revoluções, embora o
deva fazer, mas enxerga-las antes que efetivamente aconteçam, e dessa forma,
preveni-las.
Sendo assim, as únicas
revoluções que podem trazer benefícios são as organizadas pelo Poder vigente, pois
trazem ordem e evolução, os objetivos máximos dos positivistas.
Dessa forma, podemos ver na
Greve Geral de 1917 a expressão extrema da insatisfação do operariado que une
forças com outros setores da economia, sendo, de longe, uma das mais
importantes, significativas e gerais greves do Brasil, e segundo o breve relato
de Edgard Leuenroth o governo fez de tudo para
preveni-la através da força, entretanto, falhando na cura do órgão degenerado, o operário da indústria brasileira.
“…a greve geral de 1917 não pode, de maneira alguma, ser equiparada sob
qualquer aspecto que seja examinada, com outros movimentos que posteriormente
se verificaram como sendo manifestações do operariado. Isso não, absolutamente
não! A greve geral de 1917 foi um movimento espontâneo do proletariado sem a
interferência, direta ou indireta, de quem quer que seja. Foi uma manifestação
explosiva, consequentemente de um longo período da vida tormentosa que então
levava a classe trabalhadora. A carestia do indispensável à subsistência do
povo trabalhador tinha como aliada a insuficiência dos ganhos; a possibilidade
normal de legítimas reivindicações de indispensáveis melhorias de situação
esbarrava com a sistemática reação policial; as organizações dos trabalhadores
eram constantemente assaltadas e impedidas de funcionar; os postos policiais
superlotavam-se de operários, cujas residências eram invadidas e devassadas;
qualquer tentativa de reunião de trabalhadores provocava a intervenção brutal
da Policia. A reação imperava nas mais odiosas modalidades. O ambiente
proletário era de incertezas, de sobressaltos, de angústias. A situação
tornava-se insustentável."
Porém, não se entenda cura por libertação dos operários e
possibilidade de mobilidade social, Comte é extremamente cartesiano com relação
às engrenagens que compõem a sociedade, e os operários dominados são
necessários à ordem que se deseja manter. A harmonia necessária ao desenvolvimento de
uma sociedade está intimamente ligada à capacidade do governo estabelecido
controlar sua população, pois somente mediante a ordem alcança-se o progresso.
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