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sexta-feira, 22 de abril de 2022

Ordem e progresso: o positivismo enraizado no país e o preconceito racial

 13 de maio de 1888, o dia que teoricamente simbolizou a liberdade negra no país, antes disso tal população era vista como objeto, privada de qualquer tipo de garantia a dignidade, submetida a atrocidades, e tudo isso de forma legítima. Com o estabelecimento da lei Áurea, houve de fato uma grande mudança, a escravidão deixou de possuir legalidade, mas após tantos séculos sendo justificada e naturalizada pelo restante da população sua legitimidade não foi realmente questionada.  

De acordo com a corrente positivista, amplamente cultuada no Brasil, depois da promulgação da lei abolicionista, a escravidão se encerra, negros e brancos são ditos como iguais possuindo os mesmo deveres e direitos. A escravidão se torna um passado e por isso não precisa ser mais analisada já que dada como ilegal, seus efeitos se findam. Para o positivismo o que não é observável é ideologia, falácia, o mundo deve ser pensado a partir do que é concreto, sendo assim a diferença racial ainda existente no Brasil, o preconceito, a violência policial, tudo não passa de uma ilusão ou até mesmo vitimismo. 

Para os positivistas, o estabelecimento de ações afirmativas, a punição da violência policial, representam uma subversão da ordem estabelecida. A proteção da população negra, atualmente, levando conta séculos de escravização, discriminação é considerada uma medida subversiva pelo simples fato de que a criminalização da escravidão se deu em 1888, e mitigar seus efeitos hoje é considerado por eles desnecessário.  

A teoria de Comte, sobre analisar somente o que é de fato, exclui anos de história, não busca saber a origem do problema, por isso ignora a necessidade de auxílio aos negros, ignora as políticas públicas adotadas após a abolição, de embranquecimento da população a partir do incentivo a vinda de imigrantes, e a marginalização dessas pessoas que lutam até hoje para se inserir verdadeiramente à sociedade. O positivismo cruel, cravado na bandeira nacional, perpetua esse ideal de segregação, o qual covardemente chama a reparação histórica necessária, de subversão e desordem. Depois de séculos sofrendo nas mãos de brancos, a população negra que busca seus direitos é vista como atrasadora desse cultuado progresso. Essa visão positivista do mundo ainda agride e silencia os indivíduos historicamente violados, e deve ser alterada para que a humanidade caminhe realmente em direção a uma maior igualdade e ao verdadeiro progresso.  

Marina Cassaro 

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