O Iluminismo fora, de fato, um grande movimento alicerçado nas bases da Razão. Para os pensadores dessa corrente filosófica o único conhecimento válido e digno de atenção se tratava daquele que usava da pesquisa e da racionalidade para embasar suas conclusões. Dada a importante expansão deste movimento, vários pensadores posteriores ao período do auge iluminista continuaram a usar seus métodos para obtenção de conhecimento cientifico. Com isso, um destes pensadores fora o francês Augusto Comte, individuo que viria a ser considerado com o “pai” da Sociologia. Nesse sentido, Comte é um dos primeiros a buscar usar conceitos científicos para estudo do meio social, pesquisa que seria depois denominada de “Positivismo” - física social, Comte procurava fundar seus estudos sociais através de normas e leis que, assim como nas ciências naturais, fossem imutáveis. Desta maneira, embora a instauração do estudo da sociedade tenha sido deveras importante, urge atentar que o sistema positivista criado por Comte é sujeito a inúmeras análises críticas, dentre essas, a releitura, em partes, de seu lema positivista “Amor por princípio, Ordem por base e Progresso por fim” na bandeira brasileira: “Ordem e Progresso”.
Dessa
forma, começa-se pela Ordem. Para Comte, a Ordem social é um item importante
que configura o 3º estágio do conhecimento, nessa fase, a Física Social se
aplica de forma uniforme, e é o auge na visão de Comte. Nesse ínterim, para possuir um Estado de Ordem
não há uma possibilidade de mudança social, os filhos desempenharão a mesma
profissão dos pais, pois este é, na visão Comtiana, seu lugar no panorama geral
que é a sociedade o que configuraria uma norma da física social. Não existe,
para o Positivismo, a chance de mudança uma vez que a leitura social usada pelo
autor baseia-se em uma primeira e superficial análise da sociedade, que
não busca mais a fundo os reais problemas daquele meio social. A Ordem deve
funcionar, para Comte, de modo com que todos os setores da sociedade se portem, de certo modo, de acordo com suas condições de vida, uma vez que trabalham por amor a um todo
que se dá no sucesso da sociedade, o que só é possível se cada um desempenhar seu papel.
Logo, observa-se que Comte constrói a ideia de Ordem tal qual a imagem de um belo
Bolo, para se ter a sociedade perfeita, assim como a cobertura de um delicado bolo,
coberto de glacé e cores, é preciso esconder e negligenciar uma massa que dá
seu sangue para compor este bolo. Por fora deve ser lindo, por dentro é pútrido.
Nessa
continuidade, tratar-se-á do Progresso. De acordo com Comte o progresso é
conseguinte da ordem, e se dá pela manutenção da sociedade assim como ela se
encontra, com os desprovidos economicamente na base, e os magnatas no topo,
cuidando da ciência e do desenvolvimento humano. Desta forma, a ciência positivista
projeta como ideal a manutenção dos papeis sociais postulados pela ordem. Com
isso, o preconceito e os estigmas, introjetados pelas raízes positivistas no
Brasil, ganham forma através de reacionários que não se veem dispostos a deixar
a lógica positivista paradoxal de um progresso que é retrogrado e aceitar subversões
desta Ordem ultrapassada que ainda permeia a realidade brasiliana. Nesse sentido,
tal caráter da ciência positivista leva a manutenção de preconceitos no meio
social ,ao se analisar casos como quando indivíduos em grandes cargos, como é o
caso do Ministro Paulo Guedes, critica programas governamentais de financiamento estudantil ao dizer que “até filho de porteiro conseguiu entrar em uma
universidade”, nesse pensamento, para Guedes, houve uma Subversão, uma quebra
da Ordem na qual o filho do porteiro, por amor ao geral social, deveria se projetar
sobre um emprego como o do pai e não buscar outra função de trabalho, colocando
sobre a lógica do Bolo, não importa quanto uma pessoa esteja sofrendo em
determinado local social, ela é constantemente barrada de exercer outra função
em razão do ideal maior de construção do exterior perfeito do bolo, o bem geral
de uma aparente sociedade . Assim, observa-se que este “progresso” defendido por
Comte se trata de um mecanismo de manutenção da “ordem” social, um sistema que
aplaude o sofrimento e condena a imprescindível subversão desses valores.
Depreende-se, portanto, que os ideais Positivistas de Comte, embora tenham sido importantes num contexto geral de inauguração da sociologia, configuram-se como visões que, na busca de um exterior social perfeito, perpetua e fomenta estigmas, preconceitos e sofrimentos movidos pelo trabalho prestado para promoção da "Ordem e Progresso", numa sociedade que mantém as aparências externas de um belo bolo, que por dentro deteriora em sofrimento da base trabalhadora que pela ordem, tem que se manter lá pelo amor ao todo social.
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