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sexta-feira, 22 de abril de 2022

"Fábrica de Bolos "POSITIVO" - aqui todos tem seu devido lugar"

     O Iluminismo fora, de fato, um grande movimento alicerçado nas bases da Razão. Para os pensadores dessa corrente filosófica o único conhecimento válido e digno de atenção se tratava daquele que usava da pesquisa e da racionalidade para embasar suas conclusões. Dada a importante expansão deste movimento, vários pensadores posteriores ao período do auge iluminista continuaram a usar seus métodos para obtenção de conhecimento cientifico. Com isso, um destes pensadores fora o francês Augusto Comte, individuo que viria a ser considerado com o “pai” da Sociologia. Nesse sentido, Comte é um dos primeiros a buscar usar conceitos científicos para estudo do meio social, pesquisa que seria depois denominada de “Positivismo” - física social, Comte procurava fundar seus estudos sociais através de normas e leis que, assim como nas ciências naturais, fossem imutáveis. Desta maneira, embora a instauração do estudo da sociedade tenha sido deveras importante, urge atentar que o sistema positivista criado por Comte é sujeito a inúmeras análises críticas, dentre essas, a releitura, em partes, de seu lema positivista “Amor por princípio, Ordem por base e Progresso por fim” na bandeira brasileira: “Ordem e Progresso”.

Dessa forma, começa-se pela Ordem. Para Comte, a Ordem social é um item importante que configura o 3º estágio do conhecimento, nessa fase, a Física Social se aplica de forma uniforme, e é o auge na visão de Comte.  Nesse ínterim, para possuir um Estado de Ordem não há uma possibilidade de mudança social, os filhos desempenharão a mesma profissão dos pais, pois este é, na visão Comtiana, seu lugar no panorama geral que é a sociedade o que configuraria uma norma da física social. Não existe, para o Positivismo, a chance de mudança uma vez que a leitura social usada pelo autor baseia-se em uma primeira e superficial análise da sociedade, que não busca mais a fundo os reais problemas daquele meio social. A Ordem deve funcionar, para Comte, de modo com que todos os setores da sociedade se portem, de certo modo, de acordo com suas condições de vida, uma vez que trabalham por amor a um todo que se dá no sucesso da sociedade, o que só é possível se cada um desempenhar seu papel. Logo, observa-se que Comte constrói a ideia de Ordem tal qual a imagem de um belo Bolo, para se ter a sociedade perfeita, assim como a cobertura de um delicado bolo, coberto de glacé e cores, é preciso esconder e negligenciar uma massa que dá seu sangue para compor este bolo. Por fora deve ser lindo, por dentro é pútrido.

Nessa continuidade, tratar-se-á do Progresso. De acordo com Comte o progresso é conseguinte da ordem, e se dá pela manutenção da sociedade assim como ela se encontra, com os desprovidos economicamente na base, e os magnatas no topo, cuidando da ciência e do desenvolvimento humano. Desta forma, a ciência positivista projeta como ideal a manutenção dos papeis sociais postulados pela ordem. Com isso, o preconceito e os estigmas, introjetados pelas raízes positivistas no Brasil, ganham forma através de reacionários que não se veem dispostos a deixar a lógica positivista paradoxal de um progresso que é retrogrado e aceitar subversões desta Ordem ultrapassada que ainda permeia a realidade brasiliana. Nesse sentido, tal caráter da ciência positivista leva a manutenção de preconceitos no meio social ,ao se analisar casos como quando indivíduos em grandes cargos, como é o caso do Ministro Paulo Guedes, critica programas governamentais de financiamento estudantil ao dizer que “até filho de porteiro conseguiu entrar em uma universidade”, nesse pensamento, para Guedes, houve uma Subversão, uma quebra da Ordem na qual o filho do porteiro, por amor ao geral social, deveria se projetar sobre um emprego como o do pai e não buscar outra função de trabalho, colocando sobre a lógica do Bolo, não importa quanto uma pessoa esteja sofrendo em determinado local social, ela é constantemente barrada de exercer outra função em razão do ideal maior de construção do exterior perfeito do bolo, o bem geral de uma aparente sociedade . Assim, observa-se que este “progresso” defendido por Comte se trata de um mecanismo de manutenção da “ordem” social, um sistema que aplaude o sofrimento e condena a imprescindível subversão desses valores.

Depreende-se, portanto, que os ideais Positivistas de Comte, embora tenham sido importantes num contexto geral de inauguração da sociologia, configuram-se como visões que, na busca de um exterior social perfeito, perpetua e fomenta estigmas, preconceitos e sofrimentos movidos pelo trabalho prestado para promoção da "Ordem e Progresso", numa sociedade que mantém as aparências externas de um belo bolo, que por dentro deteriora em sofrimento da base trabalhadora que pela ordem, tem que se manter lá pelo amor ao todo social.

em frânces - "Le plus beau gâteu - o mais belo bolo" e 
"ç'est fait du sang par amour - é feito com sangue por amor"



Larissa Vitória Moreira
1º Semestre de Direito, noturno

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