Albert
Szent-Györgyi, fisiologista e Nobel de medicina Húngaro, discorre em uma de
suas publicações (The Crazy Ape, 1970)
acerca do zeitgeist – “espírito do
tempo” na obra do alemão Georg Hegel –, dando-lhe uma conceituação peculiar: o zeitgeist nada mais é que uma “gaiola” a
qual impede o progresso real das comunidades humanas. Estas, trancafiadas dentro
das jaulas de suas próprias convicções e conformações culturais, veem-se inertes
às mais fulcrais mudanças nos tempos.
Não
se trata, todavia, de uma perspectiva pessimista. Szent-Györgyi, mostra-nos que
não é a destruição utópica da jaula da ignorância que permite o avanço, mas sim
seu simples deslocamento mais adiante na irrefreável evolução humana. Consiste,
destarte, de um movimento paulatino, constante, não abrupto; com efeito, a
passos curtos e incessantes de indivíduos e grupos, alinhados em um mesmo sentido.
Com
efeito, Axel Honneth introduz o reconhecimento social, a emancipação do indivíduo,
como um evento não abrupto, senão cumulativo, constante. Alinha-se, portanto, à
concepção de zeitgeist do Nobel húngaro,
que nos provém, por fim, com a certeza de que a luta social ininterrupta pelo
reconhecimento e pela isonomia real é, de fato, a fagulha para a mudança concreta.
Paralelamente,
a decisão do Supremo Tribunal Federal, em 2011, de reconhecer direito à união
homoafetiva é suspiro, ainda que abafado em meio a tanto ódio e descompasso, de
justiça progressiva e emancipatória, no sentido da igualdade e da tolerância na
sociedade brasileira. A emancipação não é, como supracitado, instantânea,
tampouco intensa, mas composta de luta, de coragem e de união. Trata-se de um
passo dentre vários da comunidade LGBTQ em direção ao reconhecimento de seus
direitos.
A
gaiola da ignorância invisível, tangente aos preceitos de gênero e sexualidade,
passa a deslocar-se, permitindo a consolidação de décadas de união popular. O
fim do desrespeito ao indivíduo de que trata Honneth depende da continuidade e
fortalecimento de medidas direcionadas ao progresso, à superação da jaula
vigente. Ao zeitgeist não se deve
conceder o triunfo nem se deve promover a destruição: do zeitgeist devemos emancipar-nos.
Fernando Melo Gama Peres.
1º ano - Noturno.
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