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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Pequenez entrada de luz

Certamente ficariam vaidosos autores que há séculos escreveram obras extremamente aplicáveis aos dias atuais e também aqueles que nos legaram objetos sobre os quais nos debruçamos em trabalho árduo para extrair a melhor interpretação. Nesse sentido, há nomes como Aristóteles, Platão, Maquiavel, Marx, Hobbes, Francis Bacon e uma infinidade de outros pensadores.
Bacon, por exemplo, em Novo Organum descreve um novo paradigma de ciência, a pautada na experimentação. Ele desenvolve essa temática abordando inúmeros dos seus vértices, inclusive, o dos elementos capazes de impedir o desenvolvimento dela. Um deles é o Ídolo da Caverna, que faz alusão ao Mito da Caverna de Platão e afirma, nas palavras do próprio autor que cada indivíduo possui " sua própria caverna particular, que interpreta e distorce a luz da natureza", ou seja, cada um possui premissas, pré-conceitos que obstruem a real avaliação dos objetos. E é nesse aspecto que o autor revela sua modernidade nesta sociedade em que está em evidência assuntos polêmicos que tangem a sexualidade, educação, a cor da pele, extremismos políticos e religiosos, os quais orientam debates, críticas e avaliações pragmatizadas, não raro, pela caverna de cada homem.
É nessa questão que retomo o esdrúxulo depoimento proferido, na última semana por um parlamentar brasileiro, o deputado Jair Bolsonaro do PP-RJ, que em uma entrevista ao programa CQC da TV Bandeirantes afirmou a pequenez entrada de luz da sua caverna. O programa contava com a presença de Preta Gil, filha de Gilberto Gil, a qual indagou ao deputado qual a reação deste se um filho namorasse uma negra e a resposta, nas palavras do parlamentar, foi "Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu." Além disso, ele ainda afirmou que " não iria à desfiles gays porque não promove 'maus costumes', que daria porrada se pegasse um filho fumando maconha e que sente saudades dos generais que presidiram o país durante a ditadura." Este é somente um dos exemplos de práticas que atacam direitos defendidos pela Constituição como os Direitos Humanos, como a isonomia. No caso, provenientes de um homem de vida pública que tem a missão de atuar no ordenamento do Estado e que certamente envergonha a mim como brasileira que, desde já, defendo sua inépcia somente ao ouvir essas poucas idéias.
Este fato atual, portanto, é um exemplo do comentado, por Francis Bacon, Ídolo da Caverna em 1620 no Novo Organum e revela a importância de ler obras clássicas, de ampliar o conhecimento através de pesquisas e estudos para que não sejamos reconhecidos como medíocres, tal qual o senhor deputado Jair Bolsonaro, ao qual desejo que sejam efetivadas as devidas sanções.

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