Em julho de 2022 o Brasil testemunhou o caso de uma mulher que, logo após dar à luz, foi dopada e estuprada pelo médico anestesista responsável pelo parto. Em contrapartida, um pouco mais cedo, no mesmo ano, o Senado Federal publica a nota celebrando as “Conquistas Femininas” na bancada, tais como leis de proteção às mulheres. Tal hipocrisia pode ser facilmente entendida tendo em vista que, no ano em questão, apenas 12,3% dos parlamentares eram mulheres, ou seja, as leis e todas as demais medidas em prol da segurança da mulher que são tão orgulhosamente divulgadas, estão, na realidade, sendo majoritariamente elaboradas por homens, geralmente repletos de pensamentos machistas e conservadores, justificando sua ineficácia.
O conservadorismo que marcou a formação do Estado Brasileiro mostra-se, ainda hoje, uma marca de atraso. Sob essa perspectiva, é importante destacar que um dos grandes responsáveis por essa estruturação política conservadora e repleta de preconceitos – declarados ou não – trata-se do Positivismo, corrente de grande influência, na época de sua ascensão, nos ideais militares e, levando em conta que os primeiros presidentes brasileiros foram militares, teve grande influência nos ideais políticos também.
O embasamento positivista pode se mostrar plausível para muitas pessoas: a essência da objetividade, o foco pela razão, a aplicação do método que assemelha-se ao aplicado nas ciências exatas e todas as suas outras vertentes agrupam-se em um discurso que costuma ser bem aceito. Na prática, deixa de lado toda a singularidade do indivíduo, e resume a resolução de questões sociais a uma fórmula.
No quesito da luta feminina, quando ganha alguma graça aos olhos dos parlamentares e é finalmente vista como uma pauta, sua singularidade é constantemente ignorada, o que, partindo do ponto que existem várias outras lutas dentro dessa questão (das mulheres negras, mulheres pobres, mulheres trans), essa questão prevalece sempre mal resolvida o que, caso os ideais brasileiros fossem pautados em uma organização livre de preconceitos, que prezasse pelo bem-estar do povo de fato e que fosse laica não só na teoria, poderia ser diferente, adotando medidas que pudessem ser eficazes dentro da particularidade de cada conflito e prezando, assim, por uma sociedade que busca de verdade pela ordem – social e política justas – e progresso – livre de preconceitos.
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