A constante ordem para o caminhar do progresso
É
inegável não olharmos para trás mesmo que de forma individual do nosso passado
e percebemos o quanto nossas pautas e discussões sociais passaram por
transformações nas últimas décadas. Jamais poderia imaginar vivenciar tantos
debates importantes para um ordenamento social presenciados ao meu redor.
Nascido e educado em uma cidade sem acesso à informação, me deparar com
tamanhas discussões universais que carregaram seu protagonismo na conduta da
sociedade frente as novas realidades me fazem acreditar que o caminhar é longo,
mas que o progresso ainda resiste.
Recordo-me
que desde o ensino fundamental ao médio, toda sexta-feira éramos conduzidos ao
pátio da escola para o juramento da bandeira. Essa solenidade levava como
protocolo o cantar do hino nacional brasileiro com a mão sobreposta sobre o
lado direito do peito. As palavras desconhecidas na letra da música
levantavam-me alguns questionamentos: quem era o "penhor" mencionado na letra?
A igualdade era apenas para os "de braço forte"? Só obtive essas
respostas a partir do momento que comecei a me questionar como cidadão em um
escopo social carregado de premissas, fundamentos e partidos enraizados por
muitos anos não só no topo da minha árvore genealógica, mas também ao meu redor
indireta ou diretamente.
Se
para Augusto Comte, filósofo francês do século XIX precisamos colocar nossa
racionalidade como lentes para um estudo da sociedade a fim de compreender suas
funcionalidades e promover o progresso social para o bem-estar cívico, lá em
casa era bem diferente. Nossa fonte de entendimento do mundo lá fora seria um
canal televisivo com ruídos de comunicação e falas roteirizadas que
dificultavam a busca pela verdade e uma compreensão precisa do que ocorria ao nosso redor.
Será
que meus pais sabiam que o amor é por princípio, a ordem por base e o progresso
por fim? E se sabiam, porque demoraram para compreender a sociedade como um
organismo complexo que demanda não apenas de afeto, mas também de uma estrutura
e constante de evolução para o benefício de todos? Por que que a mudança estava
acontecendo nas ruas e demorava tanto para surgir efeito dentro de casa?
Foi
então que compreendi que a evolução é um processo gradual a partir de rupturas imediatas,
demandando não só o tempo para nosso entendimento, mas também o esforço para
acolhermos e darmos continuidade dessas mudanças. Talvez minha geração representasse a ruptura do que meus pais viam como verídico. Talvez a geração dos meus
pais representasse a ruptura que meus avós pregavam como certo. Talvez a geração
dos meus avós representasse a ruptura do que minhas bisavós defendiam como
verdadeiro. E agora, qual ruptura posso esperar dos meus futuros filhos em suas
novas convicções?
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