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domingo, 24 de março de 2024

 O colonizador e o positivismo 

O positivismo de Auguste Comte é uma escola filosófica que definia entre outras atribuições uma hierarquização de sociedades e culturas, que colocava a sociedade branca europeia no topo do progresso civilizatório e outras sociedades abaixo. Ganhando força no século XIX, esta corrente até hoje ecoa e influencia o imaginário público, estando representada por exemplo na bandeira do Brasil com a frase “Ordem e Progresso”. Portanto, o entendimento histórico de mais de 1 século de influência é crucial, desde a composição de atrocidades como o neocolonialismo até o atual discurso anti-imigração existem muitos reflexos dessa historicidade. 

Na toada do discurso anti-imigração, nas eleições recentes em Portugal o partido de extrema direita Chega conquistou mais de 1 milhão de votos e um expressivo terceiro lugar na votação parlamentar, bastante calcado na defesa de uma sociedade sem imigrantes, cristã e branca, cumprindo o ideal europeu civilizatório de Comte. O que é, além de desumano, bastante irônico para o colonizador que estabeleceu seus tentáculos em diversos países ao redor do mundo, inclusive no Brasil, cometendo genocídio com povos nativos e destruindo culturas e tradições. O que demonstra como há uma crença real em que a sociedade portuguesa e europeia como um todo seria de fato superiora e, portanto, deveria civilizar outros povos, mas nunca receber influências externas, o que é notadamente positivista. 

O momento vivido por diversos países no mundo, de uma onda de extrema direita é bastante positivista portanto, estabelecida em um contexto de hiper nacionalismo e de xenofobia, o ideal positivista de progresso civilizatório se faz fortemente presente. O que é evidente não apenas no caso supracitado de Portugal, que possui contornos históricos contraditórios, mas em diversos países, como o Brasil e a onda bolsonarista de 2018, que se colocava de forma externa e civilizada à política, baseada no discurso de ‘mudar isso daí” e de uma moralidade difusa e preconceituosa, mas que apenas estabeleceu anos de horror e barbárie sobre esses ideais, excluindo e marginalizando minorias e estabelecendo uma visão xenofóbica e preconceituosa com diversos povos e culturas. Como por exemplo o caso do recente genocídio Yanomami, fruto de um descaso brutal do governo brasileiro construído nessas ideias, que via as vidas indígenas como menos valorosas e dignas que a da população branca e elitizada das metrópoles.

Portanto, as influências positivistas são até hoje bastante presentes e vivas, mas que cada dia mais demonstram a brutal contradição entre o progresso pretendido, o esforço civilizatório e a barbárie estabelecida por estes que estão no topo para Comte. Logo, a escola positivista embora influente e destacada na história, traz contornos complexos e negativos para a atual realidade, auxiliando a gestar correntes de extrema direita e os mais variados preconceitos. 

 

Guilherme Goulart Rapacci, 1ºano direito noturno, RA:241221021

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