O caminhar pela certeza sobre trilhos de incertezas
Em uma Era protagonizada pela praticidade do acesso à informação advinda dos meios digitais, há, consequentemente, a formação de pseudo-juízes, usuários que, embasados por uma rasa carga de conhecimento ou referências, intitulam-se como doutores da verdade e habilitados para julgamentos de causas alheias.
Neste sentido, o acesso cada vez mais difundido aos trilhos da comunicação traz consigo mazelas, entre elas, a crítica pela crítica; a reprodução sem cognição; o achismo como tese.
Por esta perspectiva, ao mesmo tempo que a interação propicie maior absorção de conteúdos, tal fato é indiretamente proporcional ao crivo analítico do indivíduo. Logo, a máxima “quantidade não é qualidade” se mostra como ementa para a temática.
Ao se ponderar o histórico do desenvolvimento da ciência, a atualidade vem em contramão as conquistas materializadas até hoje. Nesta perspectiva, há como exemplo o próprio pensamento de Descartes.
Filósofo francês do século XVII, a verdade, aos seus olhos, só poderia ser alcançada através do questionamento, ou seja, da instigação pela dúvida. Logo, ao sujeito não competia um papel passivo frente à sociedade, mas sim de altivez ao que estava a sua volta. Todavia, ao se analisar os fatos recentes, especialmente no horizonte brasileiro, a base teórica cartesiana parece que jamais existiu.
Por este prisma, o maior modelo para se visualizar este fenômeno está o que ocorreu durante a pandemia de COVID-19 no país. Em realidade, o que se extraiu, inclusive institucionalmente, foi o avanço da desinformação, enraizando-a como modus operandi para a defesa não do direito à saúde, mas de interesses político-partidários. Assim, obteve-se como resultado uma sociedade cobaia daquilo reproduzido nas redes sociais e na massificação da ignorância, ultrajando a razão e a ciência, pilares até então protagonistas de qualquer crise sanitária.
Ainda que tenha carregado consigo inúmeros prejuízos, o recorte dos anos em que se vigorou o temor pelo Coronavírus proporciona importantes reflexões. Dentre elas, especialmente, está o quanto a interrogação deve reinar sobre o homem. Com isso, não lhe cabe o papel de mero passageiro daquilo que chega ao seu conhecimento, mas sim o de maquinista, guiando seu pensar sobre os trilhos da ciência e, a cada estação, aprimorando sua reflexão para a chegada da verdade, ignorando aqueles ou aquilo que tentem, levianamente, se passar por ela.
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