O quanto de nossas ações são realmente feitas pela consciência individual? De acordo com Émile Durkheim, todo movimento, toda conduta, está pouco relacionado a individualidade. Mesmo a memória e o suicídio não escapam da coletividade. Todo comportamento, portanto, tem como base a consciência coletiva, os vínculos sociais que criamos e a percepção no exterior, ou seja, atentamos quase que essencialmente – mesmo que de uma maneira “inconsciente” (já que temos tendências incorporadas em nós, desde os primeiros anos de vida) – para os pensamentos e sentimentos que podemos infligir no outro. Dessa forma, a sociedade possui regras sociais que, ainda que sejam passíveis de serem transpassadas por qualquer um, tem sanções que para muitos são graves e, consequentemente decisivas para manter a harmonia e a coesão de sua convivência social.
Tais regras são coercivas a medida de que vivenciamos o “policiamento social” a todo instante. O lado que escolhemos em debates, o estilo de vida que levamos, e até a simples recusa de ir a uma festa universitária são motivos de constante julgamento social. Esse cenário é reiterado por Durkheim em “As Regras do Método Sociológico”, no qual exemplifica que, se não seguido os costumes de vestimenta do país no qual o indivíduo se insere, ele vira motivo de riso, estranhamento e até afastamento de seus próximos. Assim, nossa realidade é de constante pressão (somos submetidos a coerção social) para se adequar à cultura da maioria e às regras sociais incorporadas. A força coercitiva, aliada a possibilidade de sanções graves, faz a nossa identidade ser nula quando estamos reunidos em multidão. Desse modo, há uma concordância espontânea no que deve ser socialmente aceito ou não, de acordo com os valores dominantes em determinado contexto social, político e cultural. Como exemplo dessa concordância, já presenciei situações na qual é visto como “estranho” o indivíduo que se recusa a expor sua vida em redes sociais como Instagram. Esse estranhamento frente a rejeição de algo banal diz muito sobre a coerção social descrita por Durkheim, ressaltando que o poder de escolha que temos é restrito, uma vez que a pressão que a coletividade coloca sobre os indivíduos é muito maior que a coragem de desobedecer às condutas impostas já estabelecidas (portanto, como diz Durkheim, “exteriores”). Em conclusão, sem que ao menos percebamos – visto que há uma coerção atenuada –, a individualidade é absorvida pelo corpo social e cada pessoa serve apenas como uma unidade que contribui para seu funcionamento.
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