O positivismo é uma corrente filosófica
do século XIX, idealizada principalmente por Auguste Comte, na qual seus
principais valores são a manutenção da ordem e estabilidade social, a preocupação
em suscitar uma moral a qual prime pelo bem público, além de reivindicar uma ciência
objetiva e baseada no método, contudo não se deve buscar a essência das coisas,
ou seja, o positivismo prefere utilizar explicações mais rasas e superficiais. Desse
modo, a fim de manter a ordem, tal filosofia almeja a aceitação e o cumprimento
dos lugares e papéis sociais de cada indivíduo na sociedade, o que acarreta em
manutenção de relações de poder que preservam as desigualdades e exclusão de
minorias sociais.
Nesse contexto de busca pela
estabilidade na sociedade, nota-se que o positivismo está inserido em uma lógica
paradoxal e até mesmo na contramão do progresso uma vez que tal corrente apresenta
uma perspectiva completamente limitada de desenvolvimento. Desse modo, a partir
novamente da ideia de manutenção do status quo, da ordem e do papel que cada
indivíduo desempenha na sociedade (o qual deve ser pautado em uma moral específica),
é inquestionável que o positivismo exclui as minorias e só é benéfico para
aqueles que estão no topo da hierarquia social e possuem privilégios nas relações
de poder que regem a sociedade, como os homens, brancos, ricos e
heterossexuais. Para ilustrar tal situação de assimetria tem-se a igualdade de
gênero de acordo com o ponto de vista positivista: as mulheres ocupam na
sociedade um papel definido como esposas e donas de casa, por exemplo, e seria,
portanto, completamente inadequado colocá-las em pé de igualdade com os homens e
ir em oposição à ordem, à estabilidade e à moral -o que acaba por impedir um
progresso de fato.
Ainda, para exemplificar o positivismo
na sociedade contemporânea tem-se as ideias do pensador brasileiro Olavo de
Carvalho, ideias estas que estão pautadas assim como à perspectiva de Comte na
manutenção das hierarquias sociais e na importância da moralidade, ou seja, um
notável conservadorismo. De acordo com tal pensador em seu livro "O
Imbecil Coletivo" no capítulo "Mentiras Gays", é possível
evidenciar o pensamento positivista a partir da análise superficial e simplória
de suas teorias, nas quais ele não busca levar em consideração as raízes dos
problemas e a essência das coisas, mas apenas a vinculação entre os fenômenos,
dispensando a complexidade. Nesse ínterim, ao não reconhecer que os homossexuais possuem uma situação singular
que necessita de direitos que acolham essa singularidade, ao tratar a
homoafetividade como um mero desejo sexual e como uma doença, desconsiderando,
assim, os limites que afetam a dignidade humana e os princípios que definem a
identidade e a alteridade, Olavo possui um pensamento que os exclui, a fim de preservar a "ordem" e a
"moralidade" uma vez que, para ele, o caminho reto do progresso seria
seguir o padrão heteronormativo.
Por fim, é
indubitável que o positivismo possui uma perspectiva muito limitada, retrógrada
e contestável sobre o desenvolvimento e o progresso das sociedades, justificando preconceitos
e exclusão das minorias sociais -muitas vezes a partir do distanciamento com a
verdade, negação de fatos comprovados cientificamente e orientação pelo senso
comum- para manter a "coesão"
social.
Mariana Antonietto Alvares Cruz - 1º ano de Direito - Matutino
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