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domingo, 26 de julho de 2020

Positivismo: progresso para quem?

        O positivismo é uma corrente filosófica do século XIX, idealizada principalmente por Auguste Comte, na qual seus principais valores são a manutenção da ordem e estabilidade social, a preocupação em suscitar uma moral a qual prime pelo bem público, além de reivindicar uma ciência objetiva e baseada no método, contudo não se deve buscar a essência das coisas, ou seja, o positivismo prefere utilizar explicações mais rasas e superficiais. Desse modo, a fim de manter a ordem, tal filosofia almeja a aceitação e o cumprimento dos lugares e papéis sociais de cada indivíduo na sociedade, o que acarreta em manutenção de relações de poder que preservam as desigualdades e exclusão de minorias sociais.
        Nesse contexto de busca pela estabilidade na sociedade, nota-se que o positivismo está inserido em uma lógica paradoxal e até mesmo na contramão do progresso uma vez que tal corrente apresenta uma perspectiva completamente limitada de desenvolvimento. Desse modo, a partir novamente da ideia de manutenção do status quo, da ordem e do papel que cada indivíduo desempenha na sociedade (o qual deve ser pautado em uma moral específica), é inquestionável que o positivismo exclui as minorias e só é benéfico para aqueles que estão no topo da hierarquia social e possuem privilégios nas relações de poder que regem a sociedade, como os homens, brancos, ricos e heterossexuais. Para ilustrar tal situação de assimetria tem-se a igualdade de gênero de acordo com o ponto de vista positivista: as mulheres ocupam na sociedade um papel definido como esposas e donas de casa, por exemplo, e seria, portanto, completamente inadequado colocá-las em pé de igualdade com os homens e ir em oposição à ordem, à estabilidade e à moral -o que acaba por impedir um progresso de fato.
        Ainda, para exemplificar o positivismo na sociedade contemporânea tem-se as ideias do pensador brasileiro Olavo de Carvalho, ideias estas que estão pautadas assim como à perspectiva de Comte na manutenção das hierarquias sociais e na importância da moralidade, ou seja, um notável conservadorismo. De acordo com tal pensador em seu livro "O Imbecil Coletivo" no capítulo "Mentiras Gays", é possível evidenciar o pensamento positivista a partir da análise superficial e simplória de suas teorias, nas quais ele não busca levar em consideração as raízes dos problemas e a essência das coisas, mas apenas a vinculação entre os fenômenos, dispensando a complexidade. Nesse ínterim, ao não reconhecer que os homossexuais possuem uma situação singular que necessita de direitos que acolham essa singularidade, ao tratar a homoafetividade como um mero desejo sexual e como uma doença, desconsiderando, assim, os limites que afetam a dignidade humana e os princípios que definem a identidade e a alteridade, Olavo possui um pensamento que os exclui, a fim de preservar a "ordem" e a "moralidade" uma vez que, para ele, o caminho reto do progresso seria seguir o padrão heteronormativo.
        Por fim, é indubitável que o positivismo possui uma perspectiva muito limitada, retrógrada e contestável sobre o desenvolvimento e o progresso das sociedades, justificando preconceitos e exclusão das minorias sociais -muitas vezes a partir do distanciamento com a verdade, negação de fatos comprovados cientificamente e orientação pelo senso comum-  para manter a "coesão" social.

Mariana Antonietto Alvares Cruz - 1º ano de Direito - Matutino

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