Do passado para cá, o ângulo pelo qual a sociedade humana é encarada sofreu modificações substanciais. Em meio a um contexto permeado pela consolidação da Revolução Científica- marcada pelas descobertas de Newton, Copérnico e Galileu e, posteriormente, amparada sob as teses de Descartes e Bacon- e do caminhar da política rumo às idealizações burguesas, Auguste Comte, pensador francês, enxergou, no século XIX, a possibilidade de se elaborar um método de estudo da sociedade humana congênere aos empregados nas ciências da natureza. Com isso, tem-se o desabrochar do Positivismo, e sua ideia de progresso retilíneo de uma sociedade, alçado aos princípios de ordem e progresso.
Todavia, em uma primeira análise, é pertinente destacar que, embora a teoria de Comte tenha sido imprescindível para o germinar da sociologia, suas teses podem ser consideradas incongruentes em vários sentidos, posto que baseiam-se em uma análise meramente reducionista e simplista de uma civilização. Nesse sentido, pode-se pontuar, de início, que o parecer positivista de que uma sociedade caminha de forma natural é bastante questionável por fazer do ser humano não um protagonista de sua própria história, mas sim um coadjuvante guiado pelas leis naturais.
Ora, a própria história evidencia que não é assim que os fatos se deram: cada sujeito retém, dentro de si, um conjunto de perspectivas e ideologias acerca da realidade, e são as complexas interações sociais derivantes desses valores que calibram o motor de transformações histórico-sociais. Desde a eclosão da Revolução Industrial, por exemplo, parte das condições de trabalho foi redefinida, já que, se antes os trabalhadores se viam imersos num vácuo absoluto de direitos, hoje a maioria das nações democráticas prevêem garantias constitucionais no que concerne à isso. Essa quebra de paradigma só pôde se concretizar em razão de sucessivas lutas da classe operárias- as quais, vale lembrar, contradizem a ordem positivista. Dessa forma, depreende-se que humano é o principal protagonista de sua própria história.
Ademais, em uma segunda análise, cabe ressaltar que o Positivismo, por pautar-se também no enaltecimento da “normalidade” biológica, estimula uma série de visões distorcidas e extremistas quanto aos processos sociais. Essa tese é ratificada na obra “O imbecil coletivo”, de Olavo de Carvalho, a qual defende a inferioridade de grupos sociais que supostamente estejam em desacordo com o processo natural, como os homossexuais.
Essa concepção, porém, não apenas negligencia os mais recentes estudos científicos sobre gêneros- que refutam a tese de que a orientação sexual é uma escolha pessoal-, como também colabora para o fortalecimento de movimentos radicais que contestam conquistas sociais da comunidade LGBT. Como efeito, assiste-se a tentativa de coibir novos avanços legais de caráter protetivo à essa comunidade: a Bancada Evangélica, por exemplo, encabeçada por Marco Feliciano, lançou mão de um conjunto de críticas e questionamentos, em 2019, ao julgamento dirigido pelo STF que visava equiparar a homofobia e transfobia a crimes de racismo.
Portanto, é evidente que, nos tempos atuais, a mentalidade positivista já não é conveniente para estudar e compreender os distintos fenômenos sociais, dotados de grande singularidade e complexidade. À vista disso, o estudo sociológico e o desenvolvimento de uma mentalidade aberta, plural e emancipada faz-se necessário para que se atinja o verdadeiro progresso, pautado não no conceito vago de ordem, mas sim na justiça social.
Fonte usada:
BRÍGIDO, Carolina; PEREIRA, Paula. Na véspera do julgamento sobre homofobia, bancada evangélica é recebida no STF. O Globo, Rio de Janeito, 12 fev. 2019. Sociedade. Disponível em: <https:/glo.bo/30NjFJ0>. Acesso em 24 jul. 2020.
Fábio Eduardo Belavenuto Silva- 1º ano de Direito- Matutino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário