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domingo, 26 de julho de 2020

A exclusão como consequência da filosofia positivista


No século XIX, com o enfraquecimento da perspectiva teológica em função da promoção da Ciência Moderna pautada na racionalidade, o francês Auguste Comte (1798-1857) formulou a teoria do Positivismo como sendo o último estágio da evolução humana, superando a própria teologia e a metafísica. Com base nela, diversos discursos, como antidemocráticos, neocolonialistas e homofóbicos, se deram com o passar do tempo.
            Em sua obra intitulada “Discurso sobre o espírito positivo”, de 1844, Comte, influenciado pelos pensamentos cartesianos e baconianos, propõe a física social como uma forma de analisar a humanidade pelo todo e a partir da observação da realidade por fatos, afirmando que o elemento comum de todas as sociedades é a moral, um padrão de conduta que garante as “leis imutáveis” denominadas “estática” e “dinâmica” – que seriam, respectivamente, a ordem e o progresso.
Dentre outros exemplos, o autodeclarado filósofo brasileiro Olavo de Carvalho mostra-se um autor com um viés positivista muito grande. Em seu livro “O Imbecil Coletivo”, de 1995, no capítulo denominado “Mentiras gays”, Carvalho busca justificar seus pensamentos extremamente intolerantes dizendo que os homossexuais são inferiores aos heterossexuais por terem uma “deficiência” que os impede de ter relações sexuais com o objetivo de reprodução. Por esse motivo, seriam um empecilho na manutenção da ordem e, consequentemente, do progresso, já que não seguiam a moral de agir estabelecida pela sociedade conservadora.
Nesse sentido, enuncia que a comunidade LGBTQI+ não tem reivindicações nobres, tendo em vista que já possuem tudo aquilo que precisam de acordo com a Constituição, não necessitando de direitos específicos. Ao fazer isso, contudo, Olavo ignora a sociedade extremamente heteronormativa e patriarcal vigente que não segue a teórica do Direito positivado, discriminando, na prática, aqueles que não se encaixam no padrão – mostrando a influência da filosofia positiva comtiana, que abrange as causas imediatas das coisas e não suas essências.
Assim, pode-se concluir que o Positivismo é uma ciência excludente, que condena tudo aquilo que foge da normalidade - traduzida como a conciliação entre a “conservação” e o “melhoramento” – como desviante e patológico e, portanto, uma forma de desordem. Partindo desse pressuposto, a difusão prática desse pensamento só contribui para a maior inferiorização de grupos já marginalizados, como a própria comunidade LGBTQI+, assegurando a eles somente o mínimo social.

Ana Eliza Pereira Monteiro - 1° ano Direito - Matutino

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