Esse pensamento positivista disserta sobre a superação do estado teológico e do metafísico, a fim de se alcançar a ‘’maturidade’’ do pensamento, que seria produzir conteúdo baseado em fundamentações lógicas, usando a ciência de forma ‘’útil’’, para a manutenção das convicções positivistas.
Esses ideais, que são a ordem, o progresso e a solidariedade, visam a padronização de comportamentos sociais para a conservação da estrutura da sociedade, e da continuidade do progresso, em uma visão positiva, reforçando a ideia de que, deve-se abrir mão de interesses pessoais para o bem coletivo.
Os princípios positivistas, como dito anteriormente, exercem grande influência em autores contemporâneos, como Olavo de Carvalho, que no capítulo ‘‘mentiras gays’’ de seu livro ‘’O imbecil coletivo’’ onde ele majoritariamente discorre sobre sua crença na superioridade heterossexual, justifica esse argumento baseando-se na premissa positivista de que a ordem e o progresso devem ser mantidos acima dos interesses individuais, portanto, as relações homossexuais não devem se igualar com a heterossexualidade por não desempenharem um papel de reprodução da espécie.
Com base nessas ideologias, ele tenta deslegitimar reivindicações dos grupos LGBTQIA+, usando premissas positivistas para justificar sua homofobia velada.
‘’Se o homossexualismo é um direito, também o é o preconceito anti-homossexual, desde que, é claro, um e outro não se traduzam em atos criminosos, como por exemplo,para o homossexual, a sedução de menores, e, para o anti-homossexual, a rejeição de um candidato a emprego por motivo de opção sexual — coisas que, aliás, são a exceção e não a regra.’’ [CARVALHO,1999,p.239-240]
A manipulação da ciência e da informação como forma de perpetuar seus ideais pode ser notada nesse trecho de seu livro, onde dois exemplos igualmente tristes são usados, mas que não despertam o mesmo efeito no leitor. Além de que, o crime usado por Olavo como um exemplo de crime homossexual não se restringe a orientação sexual, diferentemente de outros crimes diretamente ligados a homofobia. Portanto, o autor seleciona somente as informações que são úteis para deslegitimar a homoafetividade e manter a ‘’ordem’’, assim como prega o positivismo de Comte.
Podemos fazer uma relação direta das falas do autor Olavo de Carvalho com outras figuras que propagam os mesmos pensamentos, como o presidente Jair Bolsonaro, e grande parte de seus ministros, onde a manipulação de notícias está presente em sua articulação política desde a época de sua campanha eleitoral, juntamente com a propagação de uma ciência rápida, superficial, imediatista e útil para seus objetivos, como a defesa por parte do presidente, mesmo contrariando estudos científicos, do uso da hidroxicloroquina como tratamento para a Covid-19.
Outros de seus companheiros de política, como ex ministro da educação Abraham Weintraub, também apresenta caráter positivista em suas falas, quando questionado sobre o adiamento do ENEM 2020, disse que “O ENEM não foi feito para corrigir injustiças, mas para selecionar”.
Muitas pessoas ficaram surpresas com a fala do ex ministro, mas devemos questionar também se como um adepto dessa filosofia, é de seu interesse quebrar a ordem social,já que, corrigir essas injustiças, seria ver pessoas pobres ocupando espaços que antes eram restritos a somente uma classe, o que vai contra os positivistas,assim como o próprio Comte diz em sua filosofia, a divisão do conhecimento é necessária, onde algumas pessoas detenham o conhecimento, e outras não, para assim continuarem a cumprir o seu papel social.
Infelizmente, alguns eleitores só estão percebendo agora qual os ideais que parte do governo brasileiro está realmente interessado em defender, apesar de sempre ter sido explicito.
Weintraub saiu, mas a filosofia positivista ainda se faz presente em muitas ações do governo brasileiro, onde as individualidades e os grupos minoritários são negligenciados em nome de uma ordem e progresso que beneficia poucos.
Bibliografia
CARVALHO, Olavo. “Mentiras gays”. In: O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras. Rio de Janeiro: Faculdade de Cidade Editora, 1999
https://istoe.com.br/o-enem-da-desigualdade/ Entrevista com Abraham Weintraub
Talita Bravo de Pestana Faria
1 ano de Direito Matutino
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