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domingo, 26 de julho de 2020

Narcisos modernos: entre responsabilidade e egoísmo


“Ordem e progresso”: em um lema, à luz do positivismo de Comte, atribui-se à República instituída no Brasil dois termos cuja população tutelada pelo regime busca constantemente deturpar. Fato é que se trata de dois fatores fundamentais para o estabelecimento de nossa sociedade e seu respectivo desenvolvimento. No entanto, ao passo que compete a ela render-se à noção de solidariedade em prol da prosperidade do bem comum, é indubitável a maneira com a qual a tal população vai de encontro a esse ideal tão necessário – de tal modo que a busca constante de direitos, e não deveres, leva-nos enquanto povo a um atraso generalizado.
Na contemporaneidade, tornou-se explícito que o pensamento de bem coletivo fora corrompido em nome do individualismo. Uma vez perdida a concepção de responsabilidade e dos papéis sociais que tomamos enquanto membros funcionais da coletividade, tem-se uma conjuntura que nos conduz diretamente à decadência e ao fracasso. Em um exemplo nítido dessa colocação, as cobranças incessantes do Auxílio Emergencial, durante a pandemia da Covid-19, demonstram como se exige do Estado mais do que ele pode contribuir, ao mesmo tempo em que a possibilidade de honra e mérito é omitida. Como uma metáfora da crítica supramencionada, tal reivindicação constante e inapropriada demonstra como é vigente no contexto tupiniquim a sobreposição de questões particulares às temáticas públicas, posto que colocam o governo do país em uma situação de desgaste devido a problemas individuais. Dessa forma, entende-se que existe espaço para a manifestação de verdadeiros Narcisos modernos – que, de maneira análoga à mitologia grega, só enxergam seus próprios interesses e pautas.
Além disso, como se a desconstrução do princípio de bem coletivo não fosse suficiente, a disseminação de ideias liberalistas na hodiernidade banaliza a moralidade ora instituída em nossa história e nos leva à perda progressiva de nosso avanço. Em um segundo exemplo, cabe mencionar a perpetuação das - como chamadas por Olavo de Carvalho - “mentiras gays”, que amplificam uma busca inviável e inútil por privilégios mascarados de direitos. Não obstante, a busca mesquinha por esses privilégios, além de interferirem diretamente em liberdades alheias, deixa evidente o modo com o qual a distribuição dos papeis de cada um em sociedade está difusa. Sendo um distúrbio gerado e cultivado pela modernidade e pela população mais jovem, compreende-se que, se nada for feito, a tendência é nos aprofundarmos em um sistema em que muitos possuem direitos e poucos possuem deveres. A partir disso, somos conduzidos ao fiasco e miséria de uma população cujo futuro econômico e tecnológico fora atordoado por suas reflexões inúteis e desnecessárias.
Mediante o sobredito, conclui-se que o que fora descrito por Comte como “revolucionarismo insustentável” retorna à superfície da sociedade contemporânea fazendo com que se perca agilidade no progresso e trazendo a destruição da moralidade anterior. Entretidos pelo próprio reflexo, exclui-se qualquer caminho viável para o estabelecimento do bem coletivo como prioridade e, ao serem alteradas as engrenagens que regem a integridade e a ordem, sabota-se diretamente qualquer possibilidade de avanço econômico. Estabelecida a balbúrdia no tecido social, o egoísmo há de ser imperativo e corromperá qualquer ordenamento, embora seja incontestável que a ordem e o progresso são indispensáveis para uma sociedade plena. Por fim, tem-se que entre mentiras e cobranças, a população brasileira está fadada ao fim em si própria.


OBSERVAÇÃO: As opiniões expressadas no texto não condizem com as opiniões da autora! Trata-se somente da argumentação requisitada para a produção textual.

Giovanna Spineli de Paiva – Noturno


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