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domingo, 26 de julho de 2020

RUPTURA MODERNA


Há dois séculos atrás, Auguste Comte revolucionava as ciências humanas ao inventar o Positivismo, uma das doutrinas de pensamento mais importantes do século XIX, visto que seu ideal de validação do conhecimento por meio de testes e a busca pelo rigor metodológico dos resultados foram essenciais para emergir a Sociologia tal qual os moldes atuais. Desta forma, ao basear-se em grandes nomes como Francis Bacon e René Descartes, aqueles que propuseram a grande reforma epistemológica da Ciência, Comte queria algo que permitisse manter a ORDEM da sociedade, coibindo as grandes ebulições sociais que ocorriam nos centros urbanos, enquanto fomentava o PROGRESSO material da nação, em especial da emergente burguesia que se estabelecia.
            Entretanto, o panorama social da hodiernidade faz parecer que todos esses avanços científicos se perderam ao vento, visto que há uma extensa propagação de mentiras, desinformação e notícias falsas, ao ponto da verdade ser relativizada para ganhos pessoais. Ademais, com o estabelecimento do Meio Técnico Cientifico Informacional, a difusão de informações na internet passou a ser instantânea e os indivíduos acabaram esquecendo de exercitar a mais primordial das dadivas humanas: o questionamento, tal que os mesmos acabam por replicar manchetes estapafúrdias sem se inteirarem do tema, contradizendo os ideais comtianos de primar pela verdade.
            Um dos casos que demonstram isso é da discussão do movimento anti-vacina ¹, no qual há um boicote da própria imunização dos cidadãos por argumentos da suposta dominação governamental sobre os corpos, as mesmas serem indutoras do autismo em crianças ou por motivos religiosos, dentre outros. Nesse sentido, há um claro prejuízo ao convívio social e pode vir a ocorrer a volta de doenças controladas, como o Sarampo e a Poliomielite.
Este fenômeno acabou sendo agravado pelas redes sociais que ao difundirem conteúdos dispersos, criam bolhas sociais no qual nem sempre as informações ali postas são verdadeiras. Nisto, figuras, até então, relegadas ao anonimato e ao rodapé da academia, ganham força, dentre os quais, Olavo de Carvalho, um senhor que fala diversos absurdos na mídia para continuar em voga e influenciar uma massa acrítica de acéfalos, tal que este é tratado como um guru onisciente, detentor dos mais sagazes dos conhecimentos.
Assim, Carvalho, em seu livro “O imbecil coletivo”, profere diversos absurdos contra aquilo que distoa de sua visão de mundo, dentre os quais no capitulo “Mentiras gays”, busca relacionar os gays como se, no passado, eles tivessem sido figuras autoritárias, como se isso não passasse de uma doença, pelo uso reiterado de homossexualismo, ou um capricho do indivíduo ou até mesmo como se eles não merecessem direitos em decorrência de sua orientação sexual. Deste modo, ele busca, tal como Comte, induzir o leitor a crer em sua argumentação, ao passo que ele tenta frear as mudanças no pensamentos social, mantendo a ordem discriminatória já vigente.
            Outrossim, Carvalho acaba sendo um perfeito estudo de caso para mostrar aquilo que Comte criticava, o desvio da ciência, para a mesma ser realizada já com um resultado tendecioso e pautado pelas próprias crenças do pesquisador. Este acaba sendo o pano de fundo da realidade brasileira no ano de 2020 em que o Presidente da República Jair Messias Bolsonaro, no meio de uma das maiores catástrofes sanitárias da atualidade, induz a população a tomar um medicamento sem eficácia comprovada para tratar da COVID-19 e que aumenta a mortalidade do paciente².
            Portanto, o ideal positivista, infelizmente, perde-se na contemporaneidade, visto que a verdade não é algo bonito de se ver e não fortalece a narrativa de algumas autoridades. Por isso, urge que, nosso dever como cidadãos, paremos de disseminar informações falsas e procuremos questionar tudo aquilo que repassamos.


CARLOS AUGUSTO POLIDORO DA SILVA
1° ANO DE DIREITO – MATUTINO

FONTES:
           
           
             

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