Émile Durkheim, um dos
pioneiros do pensamento sociológico enquanto ciência, tem como seu objeto
central de estudo os chamados Fatos Sociais: tudo aquilo que é coletivo, coercitivo
e exterior aos indivíduos, independendo desses para existir. Deste último, transcorre
sua tese de uma sociedade que precede e determina a dinâmica dos indivíduos, sendo
até mesmo os comportamentos individuais meros hábitos forjados pela dimensão coletiva.
Sua compreensão de sociedade, por sua vez, é organicista, isto é, o conjunto
social é tido como um organismo, dotado de partes, que está inclusive suscetível
a patologias – anomias que fogem à normalidade, comprometendo a coesão social e
seu equilíbrio.
Apesar de um pensamento
ainda carregado de “positivismos”, ora minimalista no abreviar a tudo e todos a
“coisas” – os fatos sociais −, deve-se reconhecer a grandeza – e até genialidade
− da percepção de Durkheim quanto à preponderância do todos perante o cada um,
da sociedade perante o individuo, dos códigos de comportamento ante as
individualidades. O infame “cada um é arrastado por todos” vem a explicitar,
sintetizar e dilatar o quanto um imaginário ou hábito se engendra num grupo de
pessoas, cria raízes e passa a ter sua vivência independente de proveitoso ou
positivo para a sociedade, acabando eventualmente por vendar o bom senso e
discernimento social.
Assim como elucida o
filme “A Onda”, em sua primeira versão, no qual o Professor de História Burt
Ross, ao se deparar com o inconformismo dos alunos diante das atrocidades
nazistas – não compreendiam como aquilo pudera ter acontecido −, arrisca um ensaio
pedagógico, cultivando um movimento de nome homônimo ao filme, do qual é líder,
tem saudações e símbolo gráfico. Implicação foi que os alunos passaram a
obedecer cegamente a todos os preceitos do movimento, não se admitindo qualquer
discordância ou dissidência, levando a animosidades e chocando com o cotidiano
da comunidade escolar.
Desse filme faz-se a confabulação
com a consciência coletiva de Durckeim e com qualquer outra ditadura ou
movimento que prescinde de supressão de liberdades individuais em prol de
qualquer outra coisa invariavelmente menos importante. Assim, veem-se os perniciosos
– e perfeitamente possíveis – desdobramentos do pensamento exacerbadamente focalizado
no coletivo, que faz dos indivíduos meras peças de um tabuleiro arbitrário.
Durkheim fora genial em sua constatação, mas omisso ao corroborar com um modelo
de “imposição de visões e comportamento aos quais não se chegaria
espontaneamente”. Acaba certamente por adornar a frase “que sorte para os
ditadores que os homens não pensem”, do afamado Adolf Hitler.
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