Lucas
é um jovem de 18 anos. Desde a infância ele se interessa por moda, roupas,
confecção e desenho. Quando pequeno, economizava sua mesada para comprar
revistas da Vogue na banca de jornal e juntava retalhos para costurar roupinhas para seus bonecos. Hoje ele cursa
Moda em uma Universidade renomada, é uma pena que ele não cause orgulho para
ninguém, além de si mesmo. Seu pai detesta a escolha que o filho fez, sua mãe
prefere não tocar no assunto. Na escola, sempre que o assunto vinha à tona, seus
colegas não hesitavam em lançá-lo olhares de deboche, comentários
preconceituosos. “isso é coisa de viado”, frase que já havia se tornado
frequente para ele.
Raíssa,
uma adolescente de 16 anos. Com paixão por futebol. Palmeirense fanática,
assistia, religiosamente, todos os jogos nas tardes de Domingo, acompanhada de
seu pai e seu irmão mais velho. Seu sonho era entrar em um time, tornar-se
jogadora profissional. Ela só não sabia como. Nenhuma escola de futebol que ela
procurava aceitava meninas ou tinha um número de interessadas o suficiente para
montar um time. Quando Raíssa propôs montar um time com suas amigas de escolas,
a resposta era uma só: “Credo, claro que não, isso é coisa de homem”.
O que
Lucas e Raíssa têm em comum? Ambos são jovens reprimidos e desencorajados por
uma sociedade padronizada e engessada por regras construídas sem o menor
sentido. Não existe nada de mal em um garoto gostar de moda, não existe uma lei
que impeça que homens gostem de moda, muito menos esse “gostar de moda”
interferirá na sua sexualidade ou orientação. Tampouco está na legislação que
mulheres não possam jogar futebol. Este esporte não é restrito apenas ao sexo
masculino.
Mas se
tais atos não são ilegais, por que é que são tão fortemente reprovados pela
sociedade? Simples, pelo chamado “Fato Social”, estudado pelo sociólogo Émile
Durkheim. Sobre este, o pensador afirma ser um fenômeno que se dá coletivamente
e pressupõe a aceitação da maioria. Esse fenômeno deve ser visto como “coisa”,
mesmo sendo imaterial. Está fortemente presente e vivo na sociedade em que
vivemos e possui um poder coercitivo que supera o livre arbítrio de um
indivíduo em realizar suas ações pela sua própria vontade, obrigando-o a seguir
a vontade da maioria.
É isso
que coloca na cabeça das pessoas que futebol é para meninos, moda é para
meninas. Que azul é cor de menino e rosa é cor de menina. Que assistir animações
é coisa de criança e dominó é coisa de velho. Que não se pode fazer barulho enquanto
toma sopa, ou não possa entrar de chinelos em uma boate. No fundo, todos sabem
que tais pensamentos não possuem lógica ou razão. Realiza-los não torna ninguém
errado ou “pior” que ninguém. Mesmo assim, as pessoas julgam. E você, o quanto
se parece com o Lucas ou com a Raíssa? Quantos de seus desejos e sonhos são oprimidos
e abdicados por conta do Fato Social?
Yan
Douglas A. Teles – 1º Ano Direito/Noturno
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