Querida mãe,
Eu sei que você estará triste no momento em que ler essa carta. Espero que isso a ajude a entender que nunca foi sua culpa. Desde novinha, queria ser modelo. Gisele Bündchen, Isabeli Fontana... maiores ídolos da minha vida. Você sempre dizendo que eu era linda e que meus olhos de jaboticaba a encantavam. E por muito tempo, assim eu acreditei. Até que em meus 11 anos me mudei de escola, quando a senhora conseguiu o serviço que me dava aquela bolsa de estudos. E como somos pobres, toda esmola que vem é bem aceita. E lá, mãe, encontrei o que seria por muito tempo meu inferno. Não digo isso numa tentativa de te culpar. Sei que o melhor era o que você queria para mim. Digo isso porque durante 6 anos escutei todos os dias "preta imunda, suja, estranha, gorda, cabelo ruim, filha de lixo, pobre, nojenta." Machuca me expressar assim, mas, depois de um certo tempo, eu acreditei que eu era resumida nisso. Meu sonho de ser modelo se tornava mais distante. Meus olhos de jaboticaba não conseguiam ver nada mais que uma escória em frente ao espelho. Comecei com as dietas em que, você mesma sabe, não comia durante dias. Se comesse, punha para fora. Me achava cada vez mais ridícula. Não conseguia olhar para mim mesma. Até que chegou o dia em que parei de ligar, de tentar me encaixar em algo que não caibo, em algo que a minha existência é irrelevante e descartável. E hoje, o que eu sinto se resume em dor. Marcas no meu corpo mostram que a dor não é suficiente dentro de mim. E a angústia de saber que sou um peso, me faz querer partir. E assim eu vou. A sociedade me fez assim, e assim devolvo meu cadáver de entranhas e resquícios para essa morte suja. A anomia de minha vida se resumiu em um adeus.
Seja feliz.
Sempre sua pequena, Carla.
20/08/2025
Izadora Barboza Maia - 1° Ano Direito (Noturno)
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