No livro de Roque de Barros Laraia, "Cultura:
um conceito antropológico", cultura
apresenta-se de inúmeras maneiras, dependendo do autor relacionado; uma delas,
como uma lente, a qual o homem utiliza para observar o mundo. Ela seria,
portanto, algo inerente às sociedades, agindo no indivíduo em sua maneira de
interpretar seu universo: culturas diferentes resultariam em resultados,
observações - na maioria dos casos- diferentes; reafirmando sua importância no
pensamento humano. Cultura também se relaciona com as tradições e costumes, os
quais se inserem nela e, assim, compõem mecanismos de padronização na
sociedade, ou seja, as práticas e conceitos se perpetuam em um grupo. Novas
ideias seriam, pois, vistas - na maioria dos casos - como algo ruim para a
estrutura social, visto que "quebraria" com os padrões. Porém,
necessárias para o progresso de um grupo, posto que seus valores não são
eternamente estáticos, já que o ser humano não o é.
"cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua
terra" 1
Percebe-se na cultura,
caracteres que podem configurá-la como um fato social, cuja função seria manter
a ordem social, ou seja, garantir a manutenção dos valores de uma dada
sociedade harmonicamente; freando tal progresso. Um personagem alheio à cultura
sofreria então a coerção desta para seguir os padrões estabelecidos, ou a
própria sociedade - dada sua característica dinâmica, de contínua mudança -
adaptaria-se ao novo e incorporaria seus princípios aos pré-existentes.
Abarcando na ideia de que
"A homofobia nasce e se consolida no campo da cultura", separei uma
das causas eficientes de tal comportamento - a de quem
possui/pratica, declaradamente ou não. Considerando, portanto, a frase de
Leandro Colling 2 - professor e pesquisador - e somando a ela a
ideia da cultura como um fato social, percebe-se que a prática homofóbica surge
claramente como um desdobramento dos nossos valores; essa aversão apresenta-se
mais rígida e forte em alguns setores, grupos, "mini" sociedades e em
outros nula e inexistente, ou seja, em uma parte da sociedade as novas ideias
"trazidas" foram aceitas e incorporadas.
Com relação aos que
não aceitam, temos que: grande parte de seu discurso baseia-se na concepção de
família tradicional, de homossexualidade como
"desvio" da natureza humana. O exercício de tal prática, portanto, é
justificado pelos "defeitos" que compõem a outra parte, ou seja,
surgem aspectos de "salvação", "conversão" e a famosa
"cura". O homossexual necessitaria, pois, de ajuda; visto isso,
retira-se que esta "filosofia" tem como eixo a intervenção do
"são" no "doente"; seus atos seriam em prol da humanidade e
aqueles cujos comportamentos não mudarem ou aqueles que não quiserem mudar
(isto pensando como os defensores das curas - para eles homossexuais
procurariam o tratamento) serão tachados desde desvirtuados, desalinhados, para
muito pior. É perceptível a lógica orgânica de sociedade proposta por Durkheim:
aqui, as células fixas do sistema tentam "realinhar", "reinserir"
e "retroceder" aqueles fora dos padrões; a intervenção citada acima
seria em prol da permanência
das tradições, tão usadas em seus discursos, bloqueando o processo natural de autodesenvolvimento de uma
sociedade.
Com relação às ações e pensamentos
erguidos por tais, que dizem “amar a todos” e praticam tamanha barbárie,
retirei esses trechos:
"A tolerância não é o oposto da
intolerância mas a sua falsificação. Ambas são despotismo. Uma se atribui a si
mesma o direito de impedir a liberdade de consciência, e a outra de
autorizá-las. " 3
“Nosso próximo não é nosso vizinho, mas o
vizinho deste” – assim pensam todos os povos” 4
“A vaidade dos outros só fere nosso gosto
quando fere nossa vaidade” 5
Àqueles que
bravamente suportam essas dores:
“(...)
é preciso tapar os ouvidos mesmo aos melhores argumentos contrários. É o
indício de um caráter forte. Quando oportuno, deve-se, portanto, fazer triunfar
a própria vontade até a estupidez. ” 6
“O
que se faz por amor sempre se faz além do bem e do mal” 7
1. MONTAIGNE, Michel. Ensaios. Apud LARAIA, Roque de
Barros. Cultura: um conceito antropológico. p.13
2. Leandro Colling: http://conselho.cultura.ba.gov.br/a-homofobia-nasce-e-se-consolida-no-campo-da-cultura/ Entrevista ao
Conselho Estadual da Cultura (CEC)
3. PAINE, Tomás. SCAMPINI, Pe. José. A liberdade
religiosa nas constituições brasileiras: estudo filosófico-jurídico comparado.
p. 103
4. NIETZSCHE, Friedrich W. Além do bem e do mal. p.97
5. Idem, p. 100
6. Idem, p.84
7. Idem, p.95
http://conselho.cultura.ba.gov.br/a-homofobia-nasce-e-se-consolida-no-campo-da-cultura/ acesso em
21/06/15, 11:23
LARAIA,
Roque de Barros – Cultura: um conceito antropológico, Rio de Janeiro: Sahar,
2014
NIETZSCHE,
Friedrich W. Além do bem e do mal. São Paulo: Lafonte, 2012
SCAMPINI,
PE José. A liberdade religiosa nas constituições brasileiras: estudo
filosófico-jurídico comparado. Petrópolis: Editora Vozes Ltda., 1978
Roan Dias
1º - Direito Diurno
Aula 6
Aula 6
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