"Le cœur a ses raisons que la raison ne connaît point." (Blaise Pascal)
Em As Regras do Método
Sociológico, o sociólogo francês Émile Durkheim discorre sobre o fato
social – dito como intrínseco à todas as sociedades que já existiram e existirão, e o qual ele acredita ser, em grande
parte, a justificativa das ações do ser humano no meio coletivo – e o
funcionalismo, teoria sociológica concebida visando à melhor compreensão dos
fenômenos sociais.
O fato social, se compreendido literalmente à maneira de
Durkheim, coletivizando as ações humanas em causa e consequência premeditadas
por regras sociais coercitivas, pode ser entendido como um fator limitante do
que se acredita ser o fator diferencial do homem como ser racional. Em outras
palavras, a teoria do fato social de Durkheim pode ser interpretada como
redutora da complexidade humana de modo considerável, se não ofensivo.
O funcionalismo também emergiu em época de conturbadas
mudanças sociais na Europa, palco de sua elaboração. A teoria do funcionalismo
tem base no estudo das funções específicas desempenhadas pelas instituições que
integram uma sociedade, sendo estas classificadas em funcionais ou
desfuncionais (caso haja algum efeito prejudicial provindo das mudanças sociais causadas, por exemplo, pelo
mau funcionamento de alguma dessas instituições).
Quiçá com boas intenções na elaboração de sua teoria,
Durkheim, assim como o posterior Marx, talvez tenha pecado na extrema pragmatização do ser humano. Por ser tratarem de seres
dotados das mesmas faculdades mentais, sejam racionais ou emocionais, não raro
alguns comportamentos se repetem de tempos em tempos, de sociedades em
sociedades. Ainda assim, talvez a resposta desenvolvida por Durkheim – baseada
na imposição de padrões profundos
encontrados em sua teoria – seja fruto
mais de presunção do que real entendimento do funcionamento do ser humano e das
sociedades como um todo. Afinal de contas, o autor tenta estabelecer um método
de estudo linear e homogêneo para o entendimento das sociedades quando estas
são formadas de homens, os quais são seres passionais e volúveis, além de não necessariamente
estáveis e passíveis de um estudo prático semelhante ao encontrado em manuais. O que move
um homem não necessariamente irá mover outro de maneira exata em situação
semelhante, uma vez que a cada julgamento exercido, há a possibilidade de
influência de inúmeras razões individuais.
Da mesma forma, o conceito de funcionalismo é
indubitavelmente relativo, se aplicado ao modo de Durkheim. Sendo as sociedades
e suas formas, seus costumes, sua cultura, e tradição suscetíveis aos
indivíduos que a integram, o conceito de anomia, caos ou mesmo a classificação
de uma sociedade como problemática pode vir a ser duvidosa e injusta, uma vez
que para o exercício de tal julgamento, é necessário se tomar base em preceitos que podem não compreender absolutamente todas as sociedades.
"Há mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia". Shakespeare sim parecia dar mais crédito às complicações que regem o universo humano.
Nicole Vasconcelos Costa Oliveira
1º ano, Direito Diurno
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