Imigrantes africanos permanecem em campo de
refugiados improvisado no sul da Itália.
Foto: Eric Gaillard /Reuters.
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A migração é um fenômeno antigo e acompanha o desenvolvimento histórico da civilização. Em época remota, além de conflitos originados de ocupações de territórios e de disputas comerciais, a migração também possibilitava a difusão de conhecimentos e o enriquecimento cultural dos povos em contato. Hoje, a migração é vista como um dos principais problemas enfrentados pelas autoridades dos países alvo dos migrantes.
A foto acima
é de imigrantes originários da África subsaariana que foram resgatados do mar
Mediterrâneo no início deste mês. Os países europeus não recebem mais esses
imigrantes, tampouco regulariza a situação de muitos que entraram ilegalmente e
vivem há anos na Europa. O aumento do fluxo migratório no Mediterrâneo nos
últimos meses fez a França e a Espanha fecharem suas fronteiras na região;
esses países recusam resgate e abrigo de imigrantes à deriva no mar. Milhares
deles permanecem no porto de Ventimiglia, Itália, à espera de vagas em
abrigos ou de deportação a seus países de origem.
A almejada permanência em
território europeu é frustrada no resgate de suas vidas. Esses africanos arriscam-se
na fuga de conflitos étnicos na região subsaariana e na busca de trabalho na Europa. O que representa
a imigração para Émile Durkheim?
Lembremos
que, para Durkheim, a coesão social resulta da interiorização de normas e de
valores em comum pelos indivíduos, sejam eles nativos ou estrangeiros
vivendo em conjunto. Existe a crença de que em uma sociedade boa há uma ordem natural entre seus membros e que a regulação é necessária para manter
esta ordem. Contribuem para a coesão a especialização e a divisão do trabalho,
que criam dependência mútua entre os indivíduos e geram benefícios à
coletividade e a cada membro. Dois conceitos são importantes para complementar
essa análise: integração e assimilação.
Integração
é um atributo da própria sociedade, um fenômeno suscitado do coletivo para com
o indivíduo. Quanto mais as relações entre os indivíduos de uma sociedade são
intensas, mais essa sociedade é integrada. A integração é o oposto daquilo que
Durkheim denomina de anomia: desorganização social e desorientação das condutas
individuais ocasionadas pela falta de regras e de coerção social. A integração do
indivíduo assegura o bom funcionamento do grupo coeso; ela promove o sentimento
de identificação ao grupo, o compartilhamento de valores e a aceitação de
normas da sociedade. A escola, por exemplo, é um dos instrumentos que promovem
a integração dos indivíduos à sociedade.
Assimilação
é um processo pelo qual um indivíduo adquire uma nova configuração social dentro
de uma sociedade mais ampla, majoritária naquele ambiente. A assimilação implica
no desaparecimento das especificidades do indivíduo, na renúncia da sua cultura
de origem, no abandono da personalidade e na sua atomização junto à sociedade
que o absorve. É a fusão de uma porção característica ao aglomerado maior.
Na
perspectiva de Durkheim, o elevado nível de imigração é um problema social que
vai além das questões econômicas e de emprego nos países destinos. Ao
desconhecer as regras, o imigrante não se subordina à lei do país, o que,
inevitavelmente, gera instabilidade social quando o fluxo migratório é elevado.
A integração é recusada pela sociedade, apesar de o discurso politicamente
correto proclamar o acolhimento dos estrangeiros. Esses, por sua vez, não têm
os meios necessários para assimilar a nova cultura e permanecem à margem da
sociedade; para eles, a conquista do básico para sobrevivência encerra a luta iniciada no abandono de seus países de origem. Inicia-se, assim, um
novo desafio ao imigrante: aceitar a cultura alheia, sujeitar-se às novas normas
e aguardar pela sua incorporação às estruturas da sociedade.
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