Espiral de coerção social
Pelo pensamento de Durkheim, a explicação dos fenômenos sociais seria
obtida da própria dinâmica interna da sociedade. De fato, essa afirmação encontra amparo em
diversas situações do cotidiano das pessoas. Por exemplo, uma cena que tem sido
recorrente nos noticiários é aquela de um corredor de hospital, repleto de
pacientes, alguns abandonados em macas, à espera de atendimento. Não é novidade
que um dos muitos desafios enfrentados pelo sistema brasileiro de saúde pública,
sem dúvida, é a alta demanda da população. É claro que o investimento em
infraestrutura é um fator importante na resolução dessa questão sensível que interfere
na vida das pessoas dentro de um hospital. Seja dos pacientes e familiares, com
o agravamento da doença pela demora, com a perda do dia de trabalho, com a
revolta contra o sistema; seja da equipe hospitalar, que trabalha sob grande pressão
do público e da administração.
Mas, pela perspectiva funcionalista, é possível vislumbrar causas para
essa sobrecarga no sistema de saúde dentro do próprio complexo social. Uma delas
é decorrente do sistema de trânsito, como apontam dados levantados pelo
Ministério da Saúde. Em 2013, por exemplo, o SUS registrou mais de 170 mil
internações por acidentes de trânsito (aproximadamente metade envolvendo
motociclistas), gerando um gasto de R$ 231 milhões aos cofres públicos e
tornando o Brasil o quinto país do mundo em mortes por conta desse tipo de
acidente¹. Estudos apontam que é relevante o número de leitos de hospitais
públicos ocupados por pacientes dessa natureza².
Aliás, a questão da mobilidade urbana é outro fator de impacto na vida
das pessoas. A frota brasileira de veículos está em franco crescimento, em
virtude da política de incentivos adotada pelo governo desde a década de 1930. Entre
2003 e 2013, por exemplo, o número de automóveis no país cresceu 138,6%,
enquanto a população brasileira aumentou 12,2%. Esse cenário tem se refletido
no número de acidentes, no aumento do tempo gasto nos trajetos urbanos e também
na piora da qualidade do ar. Esse fato é importante, tendo em vista que, em
2011, quase 27 mil internações realizadas na Região Metropolitana de São Paulo
foram decorrentes da poluição do ar³.
E, por sua vez, poder-se-ia argumentar que o fato social relacionado à
mobilidade urbana decorre de outras causas eficientes, como do planejamento deficiente
das cidades, da dificuldade imposta pelo transporte público coletivo, dos
benefícios concedidos à aquisição e à produção de veículos individuais etc. Como
se vê, tais exemplos mostram que, de fato, é possível encontrar, dentro do próprio
organismo social, razões atuais para os problemas da população. Por outro lado,
fica a certeza de que a solução para uma questão assim passa necessariamente por
uma transformação coordenada e profunda da sociedade como um todo.
Fernando –
1º Ano Direito Noturno (texto sobre Funcionalismo - Durkheim)
Referências:
1. Portal
da Saúde. Disponível em:
< http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/aisa/noticias-aisa/18121-brasil-e-o-quinto-pais-no-mundo-em-mortes-por-acidentes-no-transito >. Acesso em: 21 jun. 2015.
2. Bacchieri,
Giancarlo; Barros, Aluísio J D. Acidentes de trânsito no Brasil de 1998 a 2010:
muitas mudanças e poucos resultados. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 45,
n. 5, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89102011000500017&script=sci_arttext>. Acesso em: 21 jun. 2015.
3. Rubim,
Barbara; Leitão, Sérgio. O plano de mobilidade urbana e o futuro das cidades. Estudos
avançados. São Paulo, v. 27, n. 79, 2013. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000300005>. Acesso em: 21 jun. 2015.
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