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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Espiral de coerção social

Pelo pensamento de Durkheim, a explicação dos fenômenos sociais seria obtida da própria dinâmica interna da sociedade. De fato, essa afirmação encontra amparo em diversas situações do cotidiano das pessoas. Por exemplo, uma cena que tem sido recorrente nos noticiários é aquela de um corredor de hospital, repleto de pacientes, alguns abandonados em macas, à espera de atendimento. Não é novidade que um dos muitos desafios enfrentados pelo sistema brasileiro de saúde pública, sem dúvida, é a alta demanda da população. É claro que o investimento em infraestrutura é um fator importante na resolução dessa questão sensível que interfere na vida das pessoas dentro de um hospital. Seja dos pacientes e familiares, com o agravamento da doença pela demora, com a perda do dia de trabalho, com a revolta contra o sistema; seja da equipe hospitalar, que trabalha sob grande pressão do público e da administração.

Mas, pela perspectiva funcionalista, é possível vislumbrar causas para essa sobrecarga no sistema de saúde dentro do próprio complexo social. Uma delas é decorrente do sistema de trânsito, como apontam dados levantados pelo Ministério da Saúde. Em 2013, por exemplo, o SUS registrou mais de 170 mil internações por acidentes de trânsito (aproximadamente metade envolvendo motociclistas), gerando um gasto de R$ 231 milhões aos cofres públicos e tornando o Brasil o quinto país do mundo em mortes por conta desse tipo de acidente¹. Estudos apontam que é relevante o número de leitos de hospitais públicos ocupados por pacientes dessa natureza².

Aliás, a questão da mobilidade urbana é outro fator de impacto na vida das pessoas. A frota brasileira de veículos está em franco crescimento, em virtude da política de incentivos adotada pelo governo desde a década de 1930. Entre 2003 e 2013, por exemplo, o número de automóveis no país cresceu 138,6%, enquanto a população brasileira aumentou 12,2%. Esse cenário tem se refletido no número de acidentes, no aumento do tempo gasto nos trajetos urbanos e também na piora da qualidade do ar. Esse fato é importante, tendo em vista que, em 2011, quase 27 mil internações realizadas na Região Metropolitana de São Paulo foram decorrentes da poluição do ar³.      

E, por sua vez, poder-se-ia argumentar que o fato social relacionado à mobilidade urbana decorre de outras causas eficientes, como do planejamento deficiente das cidades, da dificuldade imposta pelo transporte público coletivo, dos benefícios concedidos à aquisição e à produção de veículos individuais etc. Como se vê, tais exemplos mostram que, de fato, é possível encontrar, dentro do próprio organismo social, razões atuais para os problemas da população. Por outro lado, fica a certeza de que a solução para uma questão assim passa necessariamente por uma transformação coordenada e profunda da sociedade como um todo.    
                                                                                                                                                                                             
Fernando – 1º Ano Direito Noturno (texto sobre Funcionalismo - Durkheim)

Referências:
1.       Portal da Saúde. Disponível em:
< http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/aisa/noticias-aisa/18121-brasil-e-o-quinto-pais-no-mundo-em-mortes-por-acidentes-no-transito >. Acesso em: 21 jun. 2015.
2.       Bacchieri, Giancarlo; Barros, Aluísio J D. Acidentes de trânsito no Brasil de 1998 a 2010: muitas mudanças e poucos resultados. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 45, n. 5, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89102011000500017&script=sci_arttext>. Acesso em: 21 jun. 2015.
3.       Rubim, Barbara; Leitão, Sérgio. O plano de mobilidade urbana e o futuro das cidades. Estudos avançados. São Paulo, v. 27, n. 79, 2013. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000300005>. Acesso em: 21 jun. 2015.




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