A razão em Pink Floyd
O uso da razão para se atingir a plenitude intelectual e,
até mesmo espiritual, como princípio fundamental cartesiano não está superado, mesmo
em um tempo no qual o pragmatismo científico e coletivo questione a verdadeira
função da Filosofia. A razão em sua essência, porém não estritamente secular,
neutraliza as paixões ligadas aos dogmas religiosos, às tradições e ao senso comum.
A partir do momento que o homem se torna fundamentalmente racional há o fim da
censura psicológica e, com isso, os questionamentos se tornam abundantes e cada
vez mais ousados; a dúvida passa a ser o imperativo. Com a dúvida surgem as
tentações às decepções, à nostalgia, à descrença, ao vazio da existência
humana.
Pink Floyd é, indubitavelmente, a representação mais duradoura,
ou seja, clássica, da dúvida, da razão levada ao extremo. Sua obra explora e questiona
a solidão, a família, a guerra, a existência humana de uma forma universal
ainda que intimista. Outros já fizeram o mesmo, mas poucos conseguiram
desvendar as cicatrizes, os medos e os sonhos do homem contemporâneo. Uma obra
sempre taxada de niilista, de depressiva, que consegue dissecar o subconsciente
coletivo com toques psicanalíticos. E isso, sem dúvida, só foi possível devido
à crença no poder e na clareza da razão, como acreditava Descartes, para se
chegar ao conhecimento e à harmonia. Somente os céticos desfrutam da capacidade de
se desvincular de todo um legado cultural, religioso e moral para propor
discussões pendentes ao ilimitado e ao desconhecido.
Muitos séculos depois de Descartes, e seu pensamento assim
como Pink Floyd, continuam mais atuais do que nunca. O descontentamento cartesiano
com a erudição e com a educação tradicional ainda persiste, mesmo com a
facilidade de acesso à informação e com o auxílio da tecnologia. O discurso do
método, portanto, ainda é um instrumento para o crescimento do homem. A razão,
essa que sempre leva a dúvida, é , portanto, um meio seguro para se compreender a
atualidade, e isso, não poderia ficar mais evidente do que na obra de Pink Floyd.
Aqueles que ainda buscam um método deveriam conhecer melhor Pink Floyd. Se
acharem a música perturbadora demais, nada melhor do que fazer uso da razão
para lidar com o sofrimento e a irracionalidade do homem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário