É fato que a ciência analítica proposta por Descartes e Francis Bacon, acerca da racionalidade e da regulação da mente por mecanismos da experiência, respectivamente, contribuiu de maneira assertiva para a sociedade burguesa da época, haja vista uma ruptura com o que era proposto pela filosofia tradicional. Metaforizado por um relógio, coloca o ser humano como parte de um sistema metódico, o qual relega a um segundo plano suas particularidades e necessidades. Esse contexto relaciona-se com o mundo pós-modernidade, em que os avanços na medicina, por exemplo, contribuíram para a possibilidade de transplantes de órgãos artificiais, no entanto, sem prescrever uma reeducação alimentar para a mudança de estilo de vida.
É mediante esse cenário que o filme “Ponto de Mutação” busca questionar, uma visão de mundo mecanicista, a qual preza pelo individualismo e o pragmatismo. Na obra, o político, centrado no método cartesiano e a cientista, em busca de uma nova maneira de ver o mundo, apresenta questões relevantes como meio ambiente e saúde. Tal dualismo de ideias, mostra-se que a análise do todo é primordial para resolução de problemas e que ideologias passadas não devem ser enraizadas na atualidade. Fica evidente que o mundo globalizado exige que temas como superpopulação, moradores de rua, aquecimento global e questões de gênero devem ser vistos mediante um contexto social, econômico e político, mas não isoladamente. Com isso mostra-se essencial a criação de um novo sistema vivo, o qual se renova e transcende sozinho.
Esse mundo, centrado na Teoria dos Sistemas Vivos, busca a integração e interdependência das partes, abandonando a ótica patriarcal, newtoniana e cartesiana. Dessa forma, é primordial entender que tudo está em constante mudança, mas as raízes e fundamentos da constituição do todo permanecem e que a verdadeira evolução não está centrada na adaptabilidade, mas sim na criatividade de enxergar as conexões e abrir, segundo William Blake, as portas da percepção para que tudo se mostre como é, ou seja, uma noção dos preceitos da vida muito além da racionalidade imposta.
Assim, fica claro que a lógica mecanizada do método cartesiano limita o conhecimento do todo, o que resulta na crise social que vivemos, onde a solidariedade atinge níveis insignificantes. Com isso, diante do exposto contexto de desumanização da análise, resta-nos uma mudança, pois a lógica da racionalização tornará os indivíduos cada vez mais insensíveis, mecanizados e individualistas.
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