Obra
de Willian Shakespeare, “Hamlet” apresenta ao público, uma das maiores
indagações do homem: “Ser ou não ser?”, agir ou não agir? existir ou não existir?
Nesse sentido, na contemporaneidade, observa-se que essa pergunta pode ser
colocada com base em diversas relações sociais presentes no mundo globalizado. Dessa
forma, uma das preocupações construídas socialmente aos seres humanos se apresenta
pela forma como se é visto socialmente, a preocupação com a autoimagem,
panorama pelo qual o sistema capitalista de produção aparenta fazer esbanjo uso,
dados inúmeros produtos relacionados com a autoimagem no hodierno. Nesse ínterim,
faz-se imperiosa analisar como a indagação de Hamlet se coloca no mundo atual,
de maneira a analisar não só a questão da alienação e produção do trabalho contemporâneo
– tratada pela teoria de Marx e Engels – como também sobre o tópico de
preocupação com autoimagem e personalidade dadas pelo consumismo.
Em
primeiro plano, é preciso destacar como a teoria de Marx e Engels se aplica
quando se discute acerca da questão da Alienação que os modos de produção
Capitalistas introjetam na vida do ser humano. Nesse panorama, de acordo com
esse pensamento, o homem anterior à solidificação desse sistema se mostrava,
muitas vezes, dono de seu oficio, o mais frequente exemplo, os artesões que
detinham dos meios para produzir seu trabalho, cada produto era único e, feito à
mão, impossíveis de serem refeitos em perfeição, o ser-humano detinha, por meio
desse processo, uma forma de se “exteriorizar”, nos traços, materiais e formas,
ele poderia expressar sua personalidade no produto feito. No entanto, com a vinda
do sistema capitalista, o ser-humano se torna alheio aquilo que ele produz, de
modo a construir peças em linhas de produção sem nexos, de forma independente
do resto da produção, ou do produto final. Nesse panorama, tal pensamento e
sentimento de alienação se entende aos demais campos da vida, da educação à política,
com isso, o ser humano busca uma reconquista e formação dessa “exteriorização”,
por meio do consumismo, como um arcabouço que, em tese, sanaria angustias, tal
como um analgésico, e poderia trazer um pouco do sentimento de pertença e
personalidade ao indivíduo. Assim, observa-se que o ser humano busca no consumo
a solução dos problemas adquiridos pela falta dos sentimentos decorrentes do
processo de alienação, colocando-o, dessa forma, como um servidor das compras,
no qual o “ser” depende do que se compra e de quem se compra.
Ainda,
é importante destacar como o modo de produção capitalista está socialmente
incrustado no pensamento deste mundo globalizado. Nesse sentido, faz-se
importante ressaltar que a rapidez das comunicações, da produção, o desmanche no
ar daquilo que muitas vezes era considerado solido, tais como carreira e
produção, influenciaram a maneira como a nova sociedade se molda a partir dessas
relações. Nesse panorama, tal mudança se dá de maneira com que os indivíduos,
uma vez inseridos em uma sociedade, tendem a serem colocados nas Instituições
Sociais - como família, igreja, escola – desde crianças, para que aprendam as
normas daquela sociedade que, atualmente, é pautada na agilidade, rapidez e,
principalmente, na produção, sendo ensinados a produzir, mostrar resultados,
tentar seguir os moldes do sistema de modo a não “ficar para atrás” em um
processo em constante mudança. Nesse panorama, a exteriorização de uma
personalidade por meio de roupas, acessórios, consumo de bens imateriais como filmes,
musicas é colocada como uma forma de produção, o pensamento é condicionado para
aceitar, programar, comprar, “postar” nas redes sociais, como se fosse uma “linha
de montagem” de como o individuo será visto socialmente, quem detém do melhor
produto nesse processo é aquele que é colocado com fãs, seguidores, uma pessoa
vista como alguém que é “amada”, cumprindo, com sucesso, os ideais passados
institucionalmente. Nesse panorama, os indivíduos são ensinados a trabalhar, a
render, produzir, comprar, e aqui em colocar o consumo como medicamento que
sana as feridas, desde a infância, quando uma criança tem que ser vacinada, por
exemplo, os pais compensam a dor da infante com a compra de “um brinquedo
novinho”! Ora, logo esses comportamentos de consumo e produção são introjetados
desde o nascimento do ser, e são reproduzidos até sua morte, só se pode existir
no “Ser” se consome, e o “não ser” a própria anomia daquela sociedade na qual é
colocado.
Outrossim,
é válido ressaltar como que, na Sociedade Capitalista, só se representa algo caso
se consuma. Nesse sentido, o valor simbólico agregado a compra se torna algo
preocupante nos tempos atuais, isso se dá uma vez que o comprar se tornou um
representativo que todos no sistema buscam, o fim prático do trabalhar está no
comprar, esbanjar riqueza por meio de compras em marcas caras, marcas essas que
detém de grande influência como a Nike, Apple, Zara, atuam como se a posse de mercadorias
delas colocassem o indivíduo em um patamar superior, no qual todos desejariam
estar. Além disso, só o consumo poderia indicar o grupo social e a “tribo” de
alguma pessoa, atualmente, se possui-se como base o consumismo, um exemplo, alguém
que se identifica com as ideias do grupo “emo” só consegue se inserir naquele
grupo se consumir roupas, acessórios, sapatos, comuns ao daquele grupo. Logo,
observa-se que o consumo se encontra introjetado nas vidas humanas, até como
forma de demonstração de poder e expressão de ideais.
Depreende-se, portanto, que as questões que tratam acerca
do consumismo estão intrinsecamente ligadas com a tese da Alienação de Marx e
Engels colocadas a luz da analise da sociedade capitalista de produção. Nesse
interim, é importante a reflexão acerca de como essas relações se colocam hodiernamente
de modo a ressaltar o necessário cuidado referente ao consumo no que se coloca
como forma de produção, expressão de personalidade e analgésico para feridas.
Destarte, verifica-se que no mundo capitalista hodierno o “Ser ou não ser” de
Hamlet se coloca de modo com que só se é algo se é capaz de consumir, e se não
o faz, infelizmente para essa sociedade, se coloca como invisível, ou seja, entre
o “Ser ou não ser” o consumir parece ser a questão.
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