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sábado, 7 de agosto de 2021

'Durcain' e os meus castigos.

 Querido diário,

Hoje mamãe me bateu na frente de todo mundo. Eu 'tavo' com muita fome e não tinha nadinha em casa, então fui pegar uma manga na árvore da Dona Marta sem pedir. Mamãe disse que a surra foi para meu próprio bem porque se as outras crianças vissem e pegassem a manga seria um 'pobremão' para nossa vila. Papai me contou a história de que o Brasil não 'tava bão', ninguém conseguia 'trabaiar' certinho e a nossa vilazinha não recebia mais comida para alimentar todo mundo. Por minha causa, mamãe e papai tiveram que ir lá na frente da igreja para conversarem com o Coronel, ele 'tava' zangado e falava que não podia acontecer de novo, que Dona Marta não gostou nadinha d'eu ir pegar a manga dela. Seu Coronel falou 'ingual' minha mamãe "estou fazendo isso porque preciso que os outros entendam que é errado e não façam isso, seria ruim de viver juntos." Quando papai me viu com as pessoas, me mandou ficar  na casa da minha amiguinha Júlia, mas ouvi a mamãe dela falando para outra vizinha que agora meu papai vai ter que trabalhar muito mais e pagar pra Dona Marta um tantão de dinheiro por não sei quantos meses. Escrevendo para você, me lembrei do meu primo Túlio, ele é da cidade e muito inteligente e uma vez falou sobre um tal de 'Durcain' e que o nosso jeito de 'falá', de 'vesti', de 'cumê' aqui na vila era algo que 'agente' não escolhia e era tão forte na gente que se 'agente' não fizesse 'ingual' todo mundo, 'agente' ficava envergonhado e ficava de castigo. Acho que o Túlio 'tava' certo, depois que mamãe me bateu eu não queria mais ir na rua brincá e papai chegou todo triste em casa, até se trancou no quarto. Mas ninguém 'intende' que eu só peguei a manga porque eu não tinha comido ontem, espero que papai me desculpe, nunca mais irei pegar a manga da Dona Marta.


Bruna Soares Teixeira

1º ano Direito - Noturno

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