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sábado, 22 de agosto de 2020

Morreu no corredor atrapalhando minhas compras.

Você é fruto das contradições de seu tempo

De tudo o que produz, produziu e produzirá

Dono da força motriz que move o mundo

E que o constrói diariamente

 

Mas, subitamente, tudo muda

A terra em que pisa, não é mais sua

E o seu trabalho contém suas lágrimas, sangue e suor

Mas não mais possui sua marca

 

Antigo servo de sua vida e sua vontade

Agora é servo da vontade de outrem, um proletário

Um senhor invisível, te toma o possível e exige o impossível

Perante ao capital, você é desprezível

 

Você agora vive uma vida flexível

Mas ela nunca foi mais rígida

Deixou de ser humano, você agora é produto

E deve se vender, sem olhar quem te comprará

 

Em um novo mundo, onde tudo pertence a alguém

Nada te pertence, nem mesmo sua própria vontade

E a ética? E o compromisso? Teve de jogar fora

Eram um peso da sua vaidade: útil a toda a gente, mas inútil à coisa

 

Você agora é uma coisa, e jamais questionará seu lugar como coisa

Coisa não questiona, coisa é e pronto

Isso é universal, não são todas as coisas frutos da mesma coisa?

O capital junta coisa com coisa e nasce outra coisa, não é fantástico?

 

Mas a verdade, é que você se tornou menos que uma coisa

Você não é nada

Tudo se constitui graças a você, mas você não se constitui, não se reconhece

É como uma poeirinha inconveniente, uma sujeirinha qualquer que deve ser limpada

 

Por falar nisso, alguém pode limpar esse corredor?

Tem uma sujeirinha ali, que foi coberta com guarda-sóis

Limpem o quanto antes, o mercado não pode fechar

O mercado não pode parar.




Matheus Guimarães Ferrete - 1º Ano Direito (Noturno)

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