Total de visualizações de página (desde out/2009)

domingo, 27 de maio de 2012

"Científico"


Em “do socialismo utópico ao socialismo científico”, Engels apresenta as bases da ideologia defendida por ele e Marx no século XIX. Ele o faz com uma crítica da dialética idealista de Hegel e uma análise muito perspicaz da sociedade de sua época, análise essa que se adapta perfeitamente à realidade atual e põe em relevo as condições de sujeição de uma classe a outra e os tristes resultados da Revolução Francesa, que em tese defendeu a igualdade entre todos, mas redundou na tão conhecida situação de exploração burguesa do proletariado.
Com seu materialismo dialético, o autor constata que as condições do modo de produção capitalista logo se tornariam insustentável, devido à exploração da classe trabalhadora, que, ao chegar a seu limite, destruiria a ordem existente das coisas, implantando o socialismo. E este, ao contrário do que pareciam pregar os socialistas utópicos, não seria, portanto, uma verdade absoluta a ser revelada à humanidade, mas simplesmente a consequência lógica das condições históricas marcadas pelo capitalismo.
Nessas condições, a imposição da competitividade entre as empresas e a ambição constante pelo lucro levam à exploração cada vez maior da classe trabalhadora. Parece tentador dizer que essa competitividade decorre acima de tudo da ânsia de consumo da população em geral ( em geral porque percebe-se que até mesmo quem não tem condições de efetivar o consumo apresenta essa ânsia). Ou seja, ninguém precisa ter 20 pares de calçados para ter uma vida digna, mas devido a essa ilusão tão preponderante de que é preciso possuir muito para adquirir bem-estar, compra-se muito, e pra atender não à necessidade, mas à demanda da sociedade, as empresas querem produzir mais, mais rapidamente e com os menores custos, o que leva a essa superexploração. Se o próprio consumo em geral fosse apenas o necessário, a importância dada a esse processo de produção seria diferente; ao menos o número de fábricas com funcionários em condições deploráveis seria menor, então a atenção dada a esse modo de produção seria menor e a sociedade se basearia em outras fundações. Não que isso seja uma possível solução, de forma alguma. Essa suposição serve pra demonstrar que pode-se ver também na fraqueza de caráter da população em geral certa responsabilidade pela realidade observada.
E essa fraqueza de caráter leva a outra questão sobre as ideias de Marx de Engels. O que eles propõem é a tomada do poder pelo proletariado com o objetivo de extinguir as classes sociais, fundando uma sociedade igualitária. Acontece que nada garante que esse proletariado, ao chegar ao poder, não se tornará a nova classe opressora, uma “nova burguesia”. Porque em seus princípios, todas as revoluções ocorridas, como a Revolução Francesa ou ainda que não presenciada por esses autores, a Revolução Russa de 1917, visavam ao bem geral da população, e acabaram instituindo novas situações de opressão. Acreditar cegamente na boa-fé de uma classe só por ela ter sido oprimida, ignorando a possibilidade de ela também ter um instinto opressor não seria uma certa ingenuidade? Assim, apesar de toda essa análise impecável da sociedade capitalista feita por Marx e Engels, o futuro que eles declaram como certo e lógico talvez não seja assim tão óbvio, por mais que seja ainda possível que suas previsões se concretizem e o proletariado funde uma nova ordem social no mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário