O carioca, Chico Buarque, filho de um dos ícones da história e da sociologia brasileira, Sérgio Buarque de Holanda, por volta da década de 70 do século XX reinventa a música popular sob a égide do tropicalismo. A música, Construção, que dá nome a um de seus álbuns de maiores sucesso remonta a estrutura da sociedade capitalista em desenvolvimento. O Brasil da segunda metade do século XX caminha lentamente para a modernidade. Os gritos do progresso alcançam a América. A racionalidade impera sobre as condutas humanas. A moral é laboriosa e o trabalho é fragmentado.
Chico em sua
canção narra a trajetória da vida de um trabalhador inserido nesta sociedade. Ao
trabalhador em questão, não é atribuído nem ao menos um nome. A crítica
desenvolvida na música, diz respeito a complexa alienação dos trabalhadores,
que reflete na forma de organização social, isto é, por razão de toda estrutura
do trabalho desenvolvida na pós modernidade juntamente com os imperativos do
capitalismo possibilita a diluição do trabalhador e consequentemente sua
alienação ao mundo do trabalho.
“(...) E tropeçou no
céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público.”
O fragmento
mencionado acima, sintetiza a crítica contida em sua obra. A construção da
ideia de que o indivíduo, é descartável é apresentado em diversas partes da
música. Porém, no momento de sua redenção, no momento que o trabalhador está agonizando
no chão preste a partir deste mundo, sua maior contribuição é atrapalhar o
trânsito. Assim, apresentar os seres como reprodutores massivos de uma
sociedade do trabalho, no qual nem ao menos importa quem são, ou o que fazem desde
que não atrapalhem o fluxo natural da sociedade em desenvolvimento é de extrema
sagacidade, pois ao trabalhador que nem ao menos lhe é atribuído uma
identificação a sua morte é tão descartável como toda sua vida. Nesse sentido, o
corpo social que se molda a partir da introdução do capitalismo do século XX é
cada vez mais fragmentada e individualista na qual o altruísmo se torna mera
utopia e a identidade uma simples miragem.
Assim, o ser humano colocado em uma obra, como uma peça, que busca constantemente reproduzir a incansável homogeneidade do século XX é símbolo da destituição do ser em detrimento do trabalho, no qual semelhante a um tijolo de uma construção qualquer, os indivíduos perdem suas características afim de ressoar os ritos da sociedade capitalista. Tudo se torna mercadoria e desta mercadoria, tudo converge para a diluição do indivíduo em seres que trabalham.
Sugestão de música: Construção - Chico Buarque (1971)
Rafael Bronzatto | 1º Direito Matutino UNESP
Bela análise!
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