"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...)"Constituição da República Federativa do Brasil (1988).
A Vera trabalha na minha casa há mais de 10 anos. Me viu crescer, me ama como filha, fazia tranças no meu cabelo antes de me colocar na van para a escola e quando eu volto para a minha cidade, já na faculdade, ela faz a macarronada que eu adoro e diz que a casa fica vazia sem mim. Ela mora em um bairro relativamente perto do meu e que, nem de longe está entre os mais perigosos e marginalizados da cidade, tem sua casa própria, reformou a cozinha e o quintal esses tempos atrás, possui carro e moto.
A Vera tem uma irmã e essa irmã tem uma filha, a Luana. Luana foi morar junto com um cara, e ele estava envolvido com tráfico de drogas. Falando assim parece um negócio barra pesada, de gente ruim. Meio Pablo Escobar. Na real ele vendia maconha, nada demais, e definitivamente nada novo sob o sol. A Luana e o namorado foram presos. Agora ela já saiu, pegou 6 meses porque era ré primária. Ele, por ser reincidente, pegou 5 anos de prisão.
Eles estavam com 1,8kg de maconha.
Eu poderia dar o exemplo de qualquer playboy filho de emprésario/político/ator/médico/advogado que foi pego com mais droga que isso, com drogas muito mais pesadas do que essa e tão ai: livres, leves e principalmente soltos. Mas acho que vale a pena falar do famigerado caso do helicóptero do Aécio Neves - aquele que custava 2 milhões de reais e transportava 450kg de cocaína.
O cara se candidatou à Presidência da República - e quase ganhou.
Ainda teve gente colando adesivo de "a culpa não foi minha, eu votei no Aécio" no carro.
É muito fácil e muito cômodo ser branco, nascido em família rica e neto de ex-Presidente (mesmo que por poucas horas). O mundo foi feito pra te ajudar, moldado para te atender. Até as instituições que se dizem imparciais, como a Justiça.
Se fosse eu numa situação dessas, era capaz que eu me desse bem. Branca, classe média alta, portadora de um sobrenome de origem europeia e de família de fazendeiro, filha de servidores públicos federais e sobrinha do médico legista chefe da região. Acho que eles aliviariam um pouco para o meu lado.
É lindo estar na Constituição o princípio da isonomia. Agora, experimenta nascer pobre, negro e filho da irmã da Vera, uma empregada doméstica semi-analfabeta, ou filho da mãe do namorado da Luana, uma ex-prostituta soropositiva, pra você ver se ele é aplicado na prática.
Lara Estrela Balbo Silva
1º ano - Direito Noturno
Nenhum comentário:
Postar um comentário