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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Reinterpretar para Agir

  Em entrevista ao jornalista italiano Antonio Polito, o historiador marxista Eric Hobsbawn, ao ser questionado sobre uma retração da força da esquerda européia, não apenas política e ideológica, mas também na própria capacidade de convencimento das camadas populares, afirma que os grandes sucessos da esquerda após mais de um século de luta acabou por dificultar maiores avanços sociais na medida em que as condições materias do trabalhadores estão muito melhores de que nos tempos da Primeira Internacional, quando o trecho de seu hino sobre os trabalhadores serem “os famélicos da terra” tinha um caráter quase literal.
  Filósofos marxistas como Vladimir Safatle e Slavoj Žižek fazem duras críticas à certos comportamentos e idéias da esquerda contemporânea quanto sua “petrificação no discurso”, fruto de uma incapacidade de se adaptar à plasticidade da política, sendo um possível sintoma do uso de um discurso ortodoxo que, “congelado no tempo”, não observa a dinâmica da vida social, representação política, e a própria condição material dos trabalhadores. Não se trata apenas de boa vontade para melhorar a condição material dos trabalhadores através da reprodução, sem a devida análise metodológica utilizada pelos próprios autores da obra, de ideias de discursos inflamados e afirmações de inevitabilidade histórica. Ambos os autores falam, cada um de sua maneira, na necessidade de intensa reflexão que deve preceder a práxis revolucinária. Safatle fala de uma necessidade de pensar antes de agir porque essa é a única forma de tomar uma ação que não foi decidida de antemão pela sociedade capitalista. Sobre isso Žižek afirma que ,se a formula marxista dizia que “filósofos somente interpretam o mundo. A hora é de mudança”, talvez hoje deveriamos dizer que “O mundo mudou muito rapidamente. Devemos interpretá-lo novamente”.
  Não se trata de esperar passivamente, mas de estar preparado. A esquerda não pode estar despreparada ao tomar o poder. Ela deve saber mais do que o que ela simplesmente “não quer”. Ela deve também entender o que ela “quer”, afinal, há o dia após a revolução em que precisará ser edificada uma nova sociedade com mais do que uma promessa de um mundo mais justo, mas que tenha a capacidade técnica de, de fato, realizá-la.

Lucas Aidar da Rosa
Direito Noturno

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