A nossa sociedade ocidental atual apresenta,
em geral, intensa divisão do trabalho, indivíduos diferentes com funções
diferentes, especializadas e interdependentes e mecanismos coercitivos
exercidos de maneira mais formalizada, apresentando, portanto, algo que
Durkheim chamaria de “Solidariedade Orgânica”.
Entretanto, em alguns momentos ela pode
apresentar as características da chamada “Solidariedade Mecânica”, que Durkheim
considerava própria das sociedades “mais primitivas”:
O mês de junho de 2013, que será
lembrado pelas manifestações, inicialmente contra o aumento das tarifas do
transporte público, que tomaram proporções nacionais pode ser um bom exemplo de
solidariedade mecânica presente na sociedade atual.
Durante os primeiros dias de protesto na
cidade de São Paulo, havia por parte do Estado, das mídias e por parte da própria
sociedade, grande hostilização dos manifestantes de do movimento: A repressão
policial era intensa, desproporcional e violenta e tudo que saía na mídia sobre
os protestos era negativo, até o 4º Grande Ato, quando a imprensa também foi
atacada, jornalistas se feriram e foram detidos enquanto cobriam a manifestação.
A repressão violenta contra aquilo que seria “prejudicial à ordem e à coesão social” é uma característica da solidariedade mecânica.
A partir daí, os protestos mudaram de
figura: A mídia muda sua abordagem e começa a criticar a violência e os excessos
da repressão policial, o apoio popular aumenta cada vez mais. Entretanto, o
foco dos atos e das reivindicações dos manifestantes se altera: as pessoas
foram às ruas para protestar não só contra o aumento da tarifa, mas contra a
corrupção, demonstrar o seu descontentamento com o governo Dilma etc..
Observa-se então, o fenômeno que, nas
redes sociais, foi chamado de “O despertar do Gigante”: as pessoas se vestiram
com as cores da bandeira do Brasil, cantavam o hino nacional, exaltavam o país.
O clima de nacionalismo crescia, e todos “eram iguais e semelhantes”, pois
todos eram brasileiros. A coesão social estaria reestabelecida e a repressão,
logo, diminuiu.
Observa-se aí uma característica da
Solidariedade Mecânica: a não distinção entre os indivíduos.
Nesse mesmo período, acontecia a Copa
das Confederações: Com o clima de nacionalista, vários brasileiros foram aos
estádios prestigiar a Seleção, cantaram a uma só voz e com entusiasmo o Hino
Nacional e continuaram a cantar mesmo quando a música parou de tocar. A
consciência coletiva, como na Solidariedade mecânica, era forte e intensa.
Podemos ver, então, que em determinados
momentos, as solidariedades se alteram mesmo nas sociedades modernas,
industriais e “não primitivas” onde a Solidariedade Orgânica, segundo Durkheim,
prevaleceria.
Giovanna Narducci, 1º ano de Direito Diurno
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