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sábado, 20 de junho de 2015

Célula do Laboratório Social


         Nasceu. Menino ou menina? Menina! Quanto azar, quantos obstáculos. Falou. Brincou. Bonecas? Casinha? Queria mesmo era o futebol. Cresceu. Alfabetizou. Busca boas notas, busca espaço. Puberdade. Outra mente, mais madura. Adolescência. Ser bela. Ser magra. Ser jovem. Ser a mais bela possível, a mais magra possível e a mais jovem possível. Não ser. Busca espaço, busca voz, busca reconhecimento. Ser inteligente também. É necessário. Passar no vestibular (o mais rápido possível). Estar em uma boa faculdade. Ir a festas. Todas elas. É obrigatório ter vida social. Ter boas notas. Ter bons contatos. Fazer aulas de línguas. Fazer curso de informática. Fazer estágio. Fazer intercâmbio. Continuar buscando espaço, voz e reconhecimento. Conquistar certificados. Ir a  palestras. Preencher o currículo. Ser bela, magra e jovem. TCC. Formar (!!!). Emprego. O mais rápido possível.  Desigualdade salarial. Esforça-se. Busca espaço, voz e reconhecimento. Cadê o namorado? Achou. Namorou. Casou. Teve filhos. Largou o emprego. Cuidou dos filhos. Voltou para o emprego. Divide-se. É mãe, é filha, é esposa e é mulher. Lava, passa, cozinha e trabalha, trabalha muito, cuida dos filhos e tem que estar bela, magra e jovem, o máximo possível. Pouco descansa. Nunca para. Nunca termina. Essas são as expectativas.
           E diante das expectativas às vezes cumpridas com êxito, há a sensação de que se viveu. Mas infelizmente viveu-se de acordo com as cobranças da sociedade, com os comportamentos padronizados, não conforme suas próprias vontades, desejos e angústias. Segundo Durkheim, na obra “As Regras do Método Sociológico”, diversas etapas e instituições citadas acima, as quais segue-se cegamente acreditando ser uma vontade individual, são, na realidade, produto da consciência coletiva, do dever-ser de cada um. Consciência esta imposta, vale ressaltar, como um fato social, ou seja, coativamente, inconscientemente a todas as pessoas.
           Dessa forma, cada cidadão que age durante toda a sua vida conforme os preceitos citados nesse rápido – e tão familiar- parágrafo, é pertencente a outrem e não a si mesmo, é causa eficiente indispensável para o funcionalismo da sociedade. Pois, ainda segundo o autor, a sociedade é como se fosse um grande organismo e, seguindo esse preceito da organicidade, cada célula individual (cada ser) deve desempenhar seu trabalho em vista a alcançar o equilíbrio e a harmonia social, com o casamento heteroafetivo, com a reprodução e criação dos filhos e com a manutenção de um emprego socialmente aceito.

              Mas, questiona-se, que harmonia é essa que estabelece padrões e deixa tanta gente a vida toda infeliz? O quê realmente deve ser buscado? Será que com conservadorismo e alienação não duvida-se da capacidade de adaptação desse organismo social? Na imagem posta, autoexplicativa, fica explícito o questionamento - especialmente àqueles que têm consciência das expectativas sociais que os pressionam – sobre o que verdadeiramente vale a pena ser sentido, vivido e experimentado: ter escolhas socialmente insignificantes ou ser por inteiro apenas uma célula do laboratório social?

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