Nasceu. Menino ou menina? Menina!
Quanto azar, quantos obstáculos. Falou. Brincou. Bonecas? Casinha? Queria mesmo
era o futebol. Cresceu. Alfabetizou. Busca boas notas, busca espaço. Puberdade.
Outra mente, mais madura. Adolescência. Ser bela. Ser magra. Ser jovem. Ser a
mais bela possível, a mais magra possível e a mais jovem possível. Não ser. Busca
espaço, busca voz, busca reconhecimento. Ser inteligente também. É necessário. Passar
no vestibular (o mais rápido possível). Estar em uma boa faculdade. Ir a
festas. Todas elas. É obrigatório ter vida social. Ter boas notas. Ter bons
contatos. Fazer aulas de línguas. Fazer curso de informática. Fazer estágio. Fazer
intercâmbio. Continuar buscando espaço, voz e reconhecimento. Conquistar certificados.
Ir a palestras. Preencher o currículo. Ser
bela, magra e jovem. TCC. Formar (!!!). Emprego. O mais rápido possível. Desigualdade salarial. Esforça-se. Busca espaço,
voz e reconhecimento. Cadê o namorado? Achou. Namorou. Casou. Teve filhos. Largou
o emprego. Cuidou dos filhos. Voltou para o emprego. Divide-se. É mãe, é filha,
é esposa e é mulher. Lava, passa, cozinha e trabalha, trabalha muito, cuida dos
filhos e tem que estar bela, magra e jovem, o máximo possível. Pouco descansa. Nunca
para. Nunca termina. Essas são as expectativas.
E diante das expectativas às
vezes cumpridas com êxito, há a sensação de que se viveu. Mas infelizmente viveu-se
de acordo com as cobranças da sociedade, com os comportamentos padronizados,
não conforme suas próprias vontades, desejos e angústias. Segundo Durkheim, na obra
“As Regras do Método Sociológico”, diversas etapas e instituições citadas
acima, as quais segue-se cegamente acreditando ser uma vontade individual, são,
na realidade, produto da consciência coletiva, do dever-ser de cada um. Consciência
esta imposta, vale ressaltar, como um fato social, ou seja, coativamente, inconscientemente
a todas as pessoas.
Dessa forma, cada cidadão que age
durante toda a sua vida conforme os preceitos citados nesse rápido – e tão
familiar- parágrafo, é pertencente a outrem e não a si mesmo, é causa eficiente
indispensável para o funcionalismo da sociedade. Pois, ainda segundo o autor, a
sociedade é como se fosse um grande organismo e, seguindo esse preceito da
organicidade, cada célula individual (cada ser) deve desempenhar seu trabalho
em vista a alcançar o equilíbrio e a harmonia social, com o casamento
heteroafetivo, com a reprodução e criação dos filhos e com a manutenção de um
emprego socialmente aceito.
Mas, questiona-se, que harmonia é essa que
estabelece padrões e deixa tanta gente a vida toda infeliz? O quê realmente
deve ser buscado? Será que com conservadorismo e alienação não duvida-se da capacidade de adaptação desse organismo social? Na imagem posta,
autoexplicativa, fica explícito o questionamento - especialmente àqueles que
têm consciência das expectativas sociais que os pressionam – sobre o que
verdadeiramente vale a pena ser sentido, vivido e experimentado: ter escolhas
socialmente insignificantes ou ser por inteiro apenas uma célula do laboratório
social?
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