A ideia que
se tem, de modo geral, ao se ouvir falar do Manifesto Comunista, é a de um
ataque ferrenho a tudo o que se relacione ao sistema capitalista e à burguesia.
Por isso, num primeiro momento, espanta que o manifesto contenha o que se pode
chamar de um “louvor” aos feitos burgueses e seu caráter revolucionário. Os
autores afirmam, sobre a classe burguesa, que ela "foi a primeira a dar
provas do que a atividade humana pode empreender. Realizou maravilhas que
superaram de longe as pirâmides egípcias, os aquedutos romanos e as catedrais
góticas; conduziu expedições que puseram na sombra todos os êxodos anteriores
de nações cruzadas”. Dizem ainda: “A burguesia, durante o seu domínio de quase
cem anos, criou mais forças produtivas mais maciças e mais colossais do que
todas as gerações precedentes juntas. (...) que século anterior teve mesmo que
fosse um pressentimento de que tais forças produtivas ficariam inativas no colo
do labor social?”
Desse modo,
Marx e Engels analisam também o caráter empreendedor da burguesia. Nesse
sentido, é tentador afirmar que o maior feito dessa classe foi impor seu
sistema econômico não pela força bruta, mas agindo sutilmente no campo
psicológico dos indivíduos. Isso é, o capitalismo tem a capacidade de fazer as
pessoas quererem fazer parte dele, mesmo que elas não estejam nas melhores
situações. Por exemplo, os cidadãos brasileiros que estão desempregados ou
simplesmente em más condições financeiras não querem mudar-se para a Coreia do
Norte ou para Cuba: seu sonho é viver nos Estados Unidos, o grande símbolo do
capitalismo mundial. Porque o que os anima é a esperança de alcançar
propriedades, bens e mais conforto material. Quem não tem tudo isso, luta pra
conseguir, e quem tem, luta para manter e conseguir mais.
E não podia
deixar de ser assim: desde a mais inocente época da infância somos moldados
para sonhar com as glórias do capitalismo, mesmo sem nunca termos ouvido falar
sobre ele. Toda criança sabe que para ser feliz basta comprar o último
lançamento de um pônei colorido de brinquedo ou o mais recente jogo de um
boneco de ação. Até que seja lançado o próximo, é claro! Logo mais, o que
importa é ter roupas de marca e aparelhos eletrônicos de última geração, e
conforme mudam a idade ou mesmo os gostos da sociedade, mudam as necessidades,
que porém nunca deixam de ser tão materialistas e banais como os exemplos. É o
capitalismo que proporciona tudo isso, então porque alguém iria querer
abandoná-lo?
É essa,
então, a grande jogada da burguesia e seu capitalismo: você não é obrigado a
fazer parte do sistema capitalista por medo da repressão de alguma força
externa. Você QUER fazer parte dele porque a outra opção é uma vida sem cor,
sem brilho, sem graça, como apresentava a propaganda capitalista no período da
Guerra Fria.
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