O positivismo comtiano,
fundamentado na “física social”, na análise da sociedade com
vistas a compreender as leis que a regem e a sanar, assim, suas
patologias, no estudo unificado das ciências e na manutenção da
ordem como pressuposto para o progresso, é geralmente muito
criticado por seu conservadorismo, apesar de ter influenciado
profundamente diversas ações no âmbito político, não só no
Brasil, mas em diversos países.
Num sistema
positivista, cada indivíduo deveria resignar-se à sua função,
seja ela considerada mais promissora, como a de um médico ou
engenheiro, ou mais submissa, como a de um lixeiro, porque todas as
funções são igualmente importantes e disso depende a manutenção
da ordem social, essencial para o progresso, objetivo de todos.
Com a existência, na
história brasileira, de governos de inspiração claramente
positivistas, como as ditaduras varguista e militar, surgiram
políticas públicas importantes para a sociedade, como a criação
dos Ministérios da Saúde e do Trabalho, justamente devido a essa
vontade de manter a ordem. Além disso, outras das ideias comtianas
parecem muito benéficas, como a reforma da educação visando a
romper com o isolamento das ciências e permitindo uma análise mais
correta da sociedade e a concepção da solidariedade social.
Entretanto, são
ideais que não se consegue aplicar a uma sociedade marcada pela
miséria, pela exploração e pela corrupção, porque,
fundamentalmente pregam a manutenção do status quo, o fim da
mobilidade social, a unificação de ideologias. Como querer
preservar a ordem existente quando é premente a necessidade de
instituir mudanças profundas? Como considerar cada ser humano
simplesmente como parte de um sistema que deve ser preservado,
desconsiderando as necessidades e desejos pessoais de cada um, se o
que se busca é justamente o bem da sociedade? E como querer que
todos acreditem numa só ideologia, quando o maior bem de uma pessoa
é sua liberdade de pensamento?
De qualquer maneira, a
ideologia positivista é, como toda e qualquer ideologia, detentora
de uma beleza muito grande, quando na teoria, mas marcada por
diversos problemas na prática, devido à incapacidade que o ser
humano tem demonstrado de aplicar integralmente e satisfatoriamente
tudo o que pronuncia. Mas como qualquer filosofia que predominar na
sociedade tende a ser corrompida, parece mais profícuo desejar a
constante mudança, como meio de gerar pequenos benefícios pouco a
pouco, do que a manutenção de uma realidade social que nunca vai
ser satisfatória para todos.
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