Tema: "Alguma justiça é melhor que nenhuma": a matemática do Direito restitutivo.
Poucos produtos artísticos têm o poder de influenciar tanto a percepção de uma plateia como os filmes. Mais que uma escultura, um livro, uma peça de teatro, o cinema possui como característica peculiar e distintiva a visão e o interesse do diretor que, aliado a sua equipe técnica, arranja objetos em cena, posiciona câmeras em ângulos e iluminação específicos contribuindo para dar ao filme o direcionamento desejado, tornando o espectador uma espécie de "fantoche". Com o filme Código de Conduta não é diferente.
Ao tratar de questões como as falhas no sistema judiciário americano, sede de justiça, sendo essa defendida a qualquer custo e "com as próprias mãos" o filme apresenta dois personagens antagônicos: o promotor público Nick e Clyde, cidadão que teve mulher e filha assassinadas diante de seus olhos. A atuação de ambos os personagens diante do caso e a percepção dos espectadores se altera ao longo do filme.
A princípio nota-se uma conotação negativa na atuação do promotor, que embasa o apoio dos espectadores à atuação de Clyde em sua busca por "justiça", essa percepção só se altera quando o extremismo do personagem interpretado por Gerard Butler se torna evidente, através de seus métodos violentos e da morte de inocentes que não tinham relação alguma com o acontecido a sua família.
A partir desse ponto e até o final do filme tem-se a relação maniqueísta estabelecida respectivamente por Nick, representante do Direito como técnica e Clyde, representante da busca por justiça com as próprias mãos, frente à incapacidade de o Direito restitutivo saciar suas “paixões” (desejo de vingança).
O filme peca ao abraçar a ideia do direito como técnica por um enfoque errôneo, duvida dela a princípio e só vai defendê-la a partir do momento em que a justiça com as próprias mãos se torna exagerada e descomedida, quando, desde o começo, deveria mostrá-la como negativa, se o objetivo final era apresentar o direito restitutivo como a matemática jurídica correta.
Dessa forma, durante sua metade inicial, o filme reforça ideias como as lidas diariamente em jornais, nas sessões de comentários dos leitores, que dão aos direitos humanos e ao direito restitutivo uma conotação extremamente negativa e constantemente relacionada à injustiça.
Inseridos na dialética da sociedade, com a forte presença da irracionalidade (do direito) e das paixões, filmes como Código de Conduta auxiliam, mesmo que de maneira imprecisa, a constante luta pela supremacia do direito como técnica.
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