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segunda-feira, 22 de abril de 2024

O Capitalismo imediatista contemporâneo enquanto fator corrosivo do caráter

Em sua "A corrosão do caráter", Richard Sennett expressa suas impressões e reflexões sobre a vida contemporânea emergidas a partir de um encontro em um aeroporto, ao acaso, com a nova geração, espelhada na pessoa do filho de um homem com quem tivera contato em função do trabalho e há muito perdera o contato. Lapso temporal esse que apurou a percepção do autor ao contraste de conduta, princípios e visão de mundo do homem (Rico) em relação ao seu pai (Enrico).

Enquanto Enrico era um homem previsível e conservador, no sentido de condutas profissionais, resignado à sua rotina e conquistas cotidianas, seu filho mostrou-se o oposto, atuando profissionalmente em uma área próspera - ainda que volátil e imprevisível - alcançando, apesar dos percalços, o sucesso econômico e profissional idealizado pelo Sonho Americano, explicitado na ocasião pelas vestimentas caras e acessórios elegantes.

Entretanto, após anos de esforço tanto do pai quanto do filho em si, para que este conseguisse a tão almejada mobilidade ascendente, Rico viu-se amarrado a ideias que não foram por ele próprio escolhidos ou determinados, mas que faziam parte do pacote, por assim dizer. Nessa toada, agora ocupante dos cinco por cento do topo da escala salarial, o homem, encarando outra face do sistema, indignou-se com as circunstâncias operantes na sociedade capitalista contemporânea e nessa casta social, representando uma, como bem definiu Marx, cisão dentro da própria classe dominante. Isso porque, tendo em vista ser pertencente ao lado do trabalho material da moeda, Rico era membro ativo dessa classe e, como tal, detinha menos tempo disponível para alimentar ideias sobre sua própria pessoa e, consequentemente, assimilava passivamente os pensamentos e ilusões criados pelos indivíduos do outro lado dessa moeda, responsáveis pelo trabalho intelectual. Nesse contexto, inundado por diferentes proposições ideológicas, mudanças materiais, bem como pela demanda crescente por novas maneiras de organizar o tempo - sobretudo de trabalho -, frente à voracidade do mercado, torna-se uma consequência quase irremediável a separação do comportamento e da vontade do indivíduo.

Desse modo, vemos surgir no homem um temor que suas decisões tomadas para sobreviver na economia moderna houvessem posto sua vida emocional, interior, à deriva e, no âmbito familiar, observa-se um dilema para evitar que as relações sucumbam aos “valores de camaleão da nova economia” que correm o caráter e, assim, uma luta para manutenção e transmissão de virtudes e de um senso de identidade sustentável.

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