Tituba não seria bruxa em um outro contexto histórico-dialético
O livro "Eu, Tituba, bruxa negra de Salém", de Maryse Condé, conta a história de Tituba, uma mulher preta de Barbados que foi escravizada no contexto do colonialismo e, também, foi uma das mulheres condenadas por "bruxaria" em Salém no século XVII. Pode- se analisar tal situação a partir do método materialista histórico dialético, que foi desenvolvido por Karl Marx e Friedrich Engels.
Este método foi constrúido com a função de analisar a sociedade de maneira científica, com base na realidade. Ao contrário de Hegel, que entendia que a explicação do mundo estava na projeção das idéias, e esta influenciaria o "real", Marx e Engels entendiam que são justamente as bases materiais que influenciam tal projeção. A partir disso, pode-se entender de maneira mais profunda a situação que Tituba estava inserida: essa mulher estava incluída em um contexto que a religião cristã, aliada ao racismo religioso, predominava a materialidade daquela época e, assim, a projeção de idéias desses indivíduos. Dessa forma, caso Tituba estivesse inserida em uma situação não cristã e racista, seu desfecho provavelmente seria outro, como a não acusação de bruxaria (talvez nem mesmo existissem as chamadas bruxas em outra situação política-social-histórica), já que "as coisas não surgem do nada e nossas escolhas não são somente nossas, nem livres, mas existem (e inexistem) dentro de um contexto." (FERNANDES, Sabrina. 2020, p. 67)
Por fim, a concepção materialista da história na dialética de Marx e Engels entende que as representações, como arte, cultura e religião, não possuem total autonomia, mas vinculam-se à base material, isto é, a atividade material e ao comércio dos homens. No caso de Tituba, as relações de produção estavam pautadas no mercantilismo colonial, que necessitava do comércio escravista e do apoio católico, assim, verifica-se que de fato a representação da religião, que a entendia como bruxa, estava intrinsicamente ligada às condições materiais de produção.
Bárbara Canavês Domingos
Direito Noturno
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