Fotos de você: os limites das ações
em nome do progresso
(disponível em http://coral.ufsm.br/roth/olga4.htm)
É precisamente por isso que
esforço-me para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas
últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão
breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de
vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo,
pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o
último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam
bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber
fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer
tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de
viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã.
Beijos pela última vez. Olga.”
(Trecho da última carta de Olga Benário Prestes – Abril 1942)
Naquele 10 de Novembro 1937, as ondas do rádio trouxeram uma
voz conhecida anunciando à Nação um período novo, de modernidade para o País. Um
regime forte, de paz, de justiça e de trabalho. Um governo pela continuação do
Brasil, pela existência nacional, que restaurasse a Nação e se sobrepusesse
sobre as influências desagregadoras. Uma nova Constituição para substituir
aquela de 3 anos antes.
Não seria exagero afirmar que esse episódio representa a
extrapolação dos ideais de ordem, de felicidade terrena, de primazia do
coletivo sobre o individual. Um momento que marca o descompasso entre a marcha de
um pensamento político e a cadência do ritmo democrático. Um pensamento que,
apesar de ter indicado um caminho a ser seguido, ignorou que poderiam existir
outros igualmente possíveis. Afinal, o universo não é governado apenas por
funções diretas, bijetoras, de causa e efeito.
A bela mecânica newtoniana nos permitiu apreciar os fatos
naturais por uma nova perspectiva. Mais do que isso, permitiu à ciência avançar
por novas fronteiras, mostrando ao homem que a visão macroscópica do universo,
das estrelas e buracos negros, e a microscópica das partículas subatômicas,
quarks e elétrons, são complementares e igualmente importantes para descrever o
fenômeno da vida. Tal constatação científica parece não se coadunar com a ideia
simples de associar sociedade a uma máquina, com cada indivíduo devendo assumir
uma função particular nesse conjunto complexo, sob pena de ser descartado.
No episódio histórico citado, muitos foram descartados em
prol de um idealizado bem comum. Talvez o caso mais marcante (e que não deve ser
esquecido) seja aquele envolvendo a família Prestes e que serve de exemplo de
como um projeto de futuro não deve ser construído em prejuízo da vida humana. Esquecer
isso é esquecer que as relações humanas são fundamentalmente realizadas no
plano individual e, nesse contexto, cada um, por mais desconhecido que seja,
assume uma importância ímpar.
“Eu tenho olhado suas
fotos por tanto tempo,
que quase acredito que
elas são reais.
Eu tenho vivido há
tanto tempo com suas fotos
que quase acredito que
elas são tudo o que consigo sentir.”
(The Cure – Pictures of you)
Fernando –
1º Ano Direito Noturno
Texto sobre o Positivismo de Comte
Referências:
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