Ao longo da
história humana podem-se perceber diversas relações que passam a desenvolver a
cultura contemporânea, sendo muitos destes movimentos culturais imprescindíveis
para que entendêssemos o mundo como o entendemos. Assim, sob o aspecto político-social
e, principalmente, cultural, os avanços que os chamados “clássicos”
empreenderam em suas vidas e obras é extremamente importante e norteador da consciência
de toda a sociedade ocidental.
Durante muito
tempo, o conhecimento produzido nas Academias, que são em dos primeiros locais de
ensino acerca de temas fundamentais e mais complexos que o senso comum, que se especializavam em determinada perspectiva e metodologia, se estruturava
por aquilo que se propunha verdadeiro. A simples evocação de uma autoridade no
assunto poderia propiciar o fim da discussão, os novos conhecimentos sem poder
ser contrapostos aos tradicionais. A prática desta estrutura de argumentação
chamada argumentum ad verecundiam e
outras normas discursivas empregadas em tempos passados acabam por retardar o
desenvolvimento da ciência em vários âmbitos.
Assim,
então, Descartes levanta-se contra as conveniências e políticas acadêmicas de
seu momento histórico e propõe a argumentação da dúvida. Em sua obra Discurso
do Método, o autor é muito claro ao afirmar que a simples aceitação de obras
clássicas, se não analisadas, pressupõe conhecimento errôneo e defasado, propondo a estruturação do
trabalho crítico. Desta forma, até o momento em que o autor propôs uma nova
sistematização do pensar era possível criar argumentações absurdas e, no
entanto, válidas, através da não averiguação de conhecimentos antes produzidos,
por exemplo:
Proposta 1)
A maçã é um fruto;
Proposta 2) O
fruto advém da terra;
Proposta 3)
A terra é algo vazio de vida;
Proposta 4)
O fruto não tem vida.
Apesar de
utilizar um exemplo pouco problemático e pouco questionável, a questão de raciocínios
sem ligação ou com ligações errôneas eram cessadas com um simples considerar do
mestre. A elite intelectual é disposta, portanto, não aos questionamentos e
dúvidas; não ao estudo ou problematização, mas sim a uma estrutura de
conservação. As propostas cartesianas, desta forma, para além de suas
conclusões filosóficas como “eu penso, logo existo”, permeiam por nossas
comunidades como um meio de legitimar o questionamento, uma vez que a elite
intelectual e política, principalmente política, se não é, muitas vezes
comportam-se como, os clássicos que não argumentam, apenas expõem seus
conceitos.
O conhecimento
pressupõe e aceita, portanto, conceitos já propostos. Mas estes apenas estruturam a
real necessidade de entendimento humano, que não pode ser fragmentado ou falso,
se houver o empreendimento do “esforço problematizante” e da colocação de
dúvidas acerca daquilo que nos parece minimamente questionável. Assim, vencemo-nos
a nós mesmos na busca por nosso conhecimento e tornamo-nos aquilo que somos.
“Quer
estejamos despertos, quer estejamos dormindo, jamais devemos nos deixar
convencer exceto pela evidência de nossa razão.” Descartes
Artur
Marchioni- Aluno do XXXI turma de Direito Unesp, 1º ano, período diurno.
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