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quinta-feira, 20 de março de 2014

Descartes, argumentum ad verecundiam e a política do conhecimento.



Ao longo da história humana podem-se perceber diversas relações que passam a desenvolver a cultura contemporânea, sendo muitos destes movimentos culturais imprescindíveis para que entendêssemos o mundo como o entendemos. Assim, sob o aspecto político-social e, principalmente, cultural, os avanços que os chamados “clássicos” empreenderam em suas vidas e obras é extremamente importante e norteador da consciência de toda a sociedade ocidental.
Durante muito tempo, o conhecimento produzido nas Academias, que são em dos primeiros locais de ensino acerca de temas fundamentais e mais complexos que o senso comum, que se especializavam em determinada perspectiva e metodologia, se estruturava por aquilo que se propunha verdadeiro. A simples evocação de uma autoridade no assunto poderia propiciar o fim da discussão, os novos conhecimentos sem poder ser contrapostos aos tradicionais. A prática desta estrutura de argumentação chamada argumentum ad verecundiam e outras normas discursivas empregadas em tempos passados acabam por retardar o desenvolvimento da ciência em vários âmbitos.

Assim, então, Descartes levanta-se contra as conveniências e políticas acadêmicas de seu momento histórico e propõe a argumentação da dúvida. Em sua obra Discurso do Método, o autor é muito claro ao afirmar que a simples aceitação de obras clássicas, se não analisadas, pressupõe conhecimento errôneo e defasado, propondo a estruturação do trabalho crítico. Desta forma, até o momento em que o autor propôs uma nova sistematização do pensar era possível criar argumentações absurdas e, no entanto, válidas, através da não averiguação de conhecimentos antes produzidos, por exemplo:

Proposta 1) A maçã é um fruto;
Proposta 2) O fruto advém da terra;
Proposta 3) A terra é algo vazio de vida;
Proposta 4) O fruto não tem vida.

Apesar de utilizar um exemplo pouco problemático e pouco questionável, a questão de raciocínios sem ligação ou com ligações errôneas eram cessadas com um simples considerar do mestre. A elite intelectual é disposta, portanto, não aos questionamentos e dúvidas; não ao estudo ou problematização, mas sim a uma estrutura de conservação. As propostas cartesianas, desta forma, para além de suas conclusões filosóficas como “eu penso, logo existo”, permeiam por nossas comunidades como um meio de legitimar o questionamento, uma vez que a elite intelectual e política, principalmente política, se não é, muitas vezes comportam-se como, os clássicos que não argumentam, apenas expõem seus conceitos.
O conhecimento pressupõe e aceita, portanto, conceitos já propostos. Mas estes apenas estruturam a real necessidade de entendimento humano, que não pode ser fragmentado ou falso, se houver o empreendimento do “esforço problematizante” e da colocação de dúvidas acerca daquilo que nos parece minimamente questionável. Assim, vencemo-nos a nós mesmos na busca por nosso conhecimento e tornamo-nos aquilo que somos.

“Quer estejamos despertos, quer estejamos dormindo, jamais devemos nos deixar convencer exceto pela evidência de nossa razão.” Descartes


Artur Marchioni- Aluno do XXXI turma de Direito Unesp, 1º ano, período diurno.

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