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domingo, 2 de abril de 2023

O Positivismo nos discursos de Extrema Direita

Ainda no início do século XX haviam grandes debates sobre qual seria o melhor regime de governo para as sociedades capitalistas. A ascensão de regimes ditatoriais conservadores e reacionários, como o facismo e o nazismo, bem como os horrores que trouxeram, fez com que a democracia se tornasse o modelo adotado e defendido por quase todo o mundo ocidental. No entanto, tal concepção parece estar em declínio nas últimas décadas, tendo em vista um aumento de discursos de extrema direita em todo o globo.


Apesar de competições entre diferentes correntes políticas serem essenciais para se obter uma democracia saudável, o que se tem visto ultimamente são declarações que se opõem ao próprio regime democrático, com seus líderes defendendo perseguições e autoritarismos em prol de “fazer o melhor para o país”. Percebe-se isso em momentos como a eleição de 2020 nos Estados Unidos, quando o candidato Donald Trump, sob o slogan de campanha “Make America great again!” (faça a América grande de novo), incentiva o ódio a imigrantes de origem latina, propondo até mesmo a construção de um muro que separasse os EUA de seus vizinhos do sul. Mais recentemente, nas eleições brasileiras de 2022, grupos de manifestantes foram às ruas para apoiar seu candidato exibindo cartazes apoiando atos inconstitucionais e antidemocráticos, como o fechamento do Supremo Tribunal Federal e Congresso e uma intervenção militar, com o pressuposto de que estas instituições estavam prejudicando a nação.


Tais correntes se baseiam em uma retórica positivista, segundo a teoria proposta por Augusto Comte, ainda no século XIX. Comte trata a sociologia como uma “física social”, uma "ciência da crise" reduzindo as complexidades da vida em sociedade a dois estados, o caos e a ordem. Na contemporaneidade, tal método é usado para exercer controle e influência nas massas através do medo, ao afirmar a existência de um “inimigo” que ameaça a ordem social vigente. Essa ameaça pode tomar diversas formas, sendo alguns exemplos: o comunismo, a imoralidade, a deturpação de valores, e etc., que teriam por consequência a destruição das famílias, a base da sociedade. Este temor de algo inexistente trás uma necessidade de restabelecimento da ordem, de restaurar o mundo a um estado anterior de “normalidade”, ignorando o fato de que as mudanças são uma constante dentro da vida social, do coletivo.


Assim se evoca um nacionalismo exacerbado que, com o suposto objetivo de estar salvando seu país, leva multidões a cometer atrocidades que até certo tempo atrás acreditávamos pertencer apenas ao passado. A exemplo disso temos o ocorrido do dia 8 de janeiro de 2023, quando grupos insatisfeitos com o resultado das eleições invadiram a sede dos três poderes, em um ato de vandalismo e violência, bem como a invasão do Capitólio nos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021 pelo mesmo motivo. Este tipo de discurso já foi usado diversas vezes por vários líderes de caráter autoritário, sempre com bastante eficiência, como é percebido ao se estudar o cenário político atual.


O aumento de narrativas com tais características dentro do cenário global demonstra, de forma bastante clara, como a humanidade se esquece rapidamente de sua história. Ainda no século passado, governos com estas mesmas prerrogativas (facista e nazista) cometeram horrores inimagináveis na Europa, causando a morte de milhões de pessoas. No Brasil, durante a ditadura militar, centenas de pessoas foram torturadas, mortas ou simplesmente desapareceram. Mesmo assim, vemos grandes massas se agitando por indivíduos que se alimentam dessas ideologias, ignorando os estragos causados por elas; ignorando que eles mesmos representam a tal ameaça à sociedade que afirmam tão enfaticamente estar lutando contra. 




Ana Paula de Souza


RA: 231221029


1º Direito matutino


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