Tema: Existe positivismo hoje?
Os filósofos modernos René Descartes e Francis Bacon teorizaram os métodos científicos que deram as bases epistemológicas para a compreensão da natureza e do mundo humano. A sistematização que prioriza os resultados para a apreensão da verdade, pautada no método cartesiano, deu início ao processo de dominação das forças naturais. Dentro disso, com as ciências naturais consolidadas durante duzentos anos, o sociólogo Auguste Comte, em meados do século XVIII, teorizou o termo “física social” como a última etapa da construção do conhecimento; o estágio positivo seria a superação da fase teológica-metafísica da sociedade, solidificando, por fim, uma ciência para o domínio e controle social.
Com efeito, Comte fundamenta a filosofia positiva com base nas ideias científicas propostas pelos renascentistas, adotando a máxima de que apenas são verdadeiros os conhecimentos baseados em fatos observáveis. A partir disso, o contexto da metade do século XVIII, que contava com a busca burguesa por hegemonia política e ideológica e o começo da organização da classe operária, influenciou o sociólogo a propor em seus escritos a conciliação entre conservação e melhoramento, isto é, só é possível atingir o progresso através da dissolução do “revolucionarismo”. Desse modo, os possíveis sinais de ruptura com os padrões da sociedade simbolizam uma ameaça ao ideal das regras de condutas e lugares sociais definidos que representam a harmonia e a ordenação defendidas pelo positivismo.
Por conseguinte, nos dias atuais, o lema central da física social, “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”, encontra-se tão vivo quanto estava há quase trezentos anos. Exemplo disso é a influência que essa corrente exerceu nos ideais que permearam a Proclamação da República, ganhando o espaço, inclusive, de ser o lema estampado na bandeira nacional. Não obstante, o episódio dos atos de 08/01/2023, que contaram com mobilização de agitação e fervilhamento de contestação do processo eleitoral de 2022, exemplifica a crença positivista de exigir o controle frente a um risco de subversão dos padrões estabelecidos e, portanto, ameaçadores da ordem vigente, representada nos últimos quatro anos pela norma “Deus, Pátria e Família", que muito se assemelha às palavras eternizadas no lábaro brasileiro, resguardadas as suas especificidades contemporâneas.
Portanto, verifica-se que o positivismo persiste como ideia estruturante da vida contemporânea. A defesa do avanço dos meios que propiciam o desenvolvimento da ciência - nos dias que correm, da tecnologia - é a máscara que esconde a sombria busca pelo progresso como esforço mantenedor da ordem controladora de condutas e ações sociais pré definidas, prejudicando a oportunidade de ascensão social e perpetuando um estado de priorização de criação e aprimoramento material, em detrimento do efetivo desenvolvimento do organismo social e demais potenciais predicados da humanidade. Ademais, o esforço de combate a qualquer ato revolucionário contribui para a continuidade dos valores elitistas que perduram desde a modernidade e sentencia a sociedade ao conservadorismo estagnatório, impedindo que o verdadeiro progresso social seja, de fato, alcançado.
Sophya Helena Batazuos Resende Bastianini de Souza - RA: 231224771
1º ano de Direito (noturno)
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