O mito da Ordem e do Progresso
O lema “Ordem e Progresso”, presente na
histórica bandeira brasileira, representa um ideal positivista propagado pelos
militares que proclamaram a República. Para eles, que exerceram os primeiros
mandatos executivos do novo regime político instaurado, a monarquia
representava um regresso para a sociedade brasileira, tendo em vista que tal
regime não era mais vigente na maioria das outras civilizações. Contudo, eles
acreditavam, de acordo com o positivismo, que o passado histórico foi
necessário para que a sociedade pudesse progredir. Logo, a escravidão, o
genocídio indígena e a agressiva miscigenação foram banalizadas para justificar
a construção de uma civilização que segue uma ordem para o progresso.
Além dessa corrente sociológica
prejudicar uma reparação histórica essencial para a desconstrução das mazelas que
corroem o tecido social, ela forma uma ativa moral universal que prescreve a
cada agente, individual e coletivo, regras de condutas que regeriam a harmonia.
Isso também é prejudicial para os cidadãos, pois aqueles que não seguirem a
norma serão classificados como “os causadores da desordem” e “os anormais”.
Assim, tornam-se alvos a serem eliminados em prol daqueles que buscam o
progresso. Essa dinâmica foi vista no holocausto provocado por Hitler, que
definia grupos sociais (judeus, homossexuais etc) que representavam o
retrocesso da nação, a qual deveria ser formada apenas pelos “homens de sangue
bom”. Infelizmente, ideias positivistas ainda podem ser vistas em alguns
pensamentos conservadores brasileiros, como a frase “bandido bom é bandido
morto”. Tal frase demonstra o desejo de “manter a ordem social”, eliminando aquilo
que a desconfiguraria. Repara-se que não há uma interpretação da realidade
social como desigual. Então, preside também o desejo de manter uma estrutura
desigual, violenta e estigmatizada que mantém os mais pobres como refém de um
sistema que os excluem. Assim, percebe-se que “a ordem” a ser mantida pelo
positivismo é uma ordem que respeita apenas interesses elitistas.
Embora o positivismo não exista,
atualmente, como força sistemática como foi durante a Segunda Guerra Mundial,
ainda há ideias que têm como
falso pressuposto a superioridade de algumas pessoas em detrimento de outras,
teórica do positivismo. Isso pode ser observado ao se analisar o agente
universal que vocaliza conhecimento. A grade curricular do ensino da História,
os físicos e biólogos estudados no fundamental, as perspectivas sociológicas são,
majoritariamente, compostas por um viés masculino e branco. Isso não acontece
porque as civilizações não europeias não possuem o seu próprio desenvolvimento
ou porque não existam mulheres e pretos nos estudos das diferentes ciências,
mas acontece porque tais vozes foram silenciadas, esquecidas e invisibilizadas
durante anos pela justificativa de que elas eram inferiores. Tal
territorialização do poder, que define quem é o mais apto para produzir o
conhecimento, ainda está presente nas relações sociais contemporâneas e exclui
vozes potentes que, na margem, buscam alcançar o centro. Por isso, faz-se tão
importante que as mais diferentes perspectivas que residem no tecido social
ecoem sobre o conhecimento e sobre a sociedade: para que o mito positivista de
superioridade não exerça, nunca mais, influência social.
Aluno: Giulia Lopes Batista Pinto
Direito - matutino
RA: 231224702
Nenhum comentário:
Postar um comentário