O positivismo é uma corrente da filosofia desenvolvida no século XIX e que apresenta como seu principal expoente o filósofo francês Auguste Comte, o qual preconizava a existência de regras que governam os fenômenos sociais. A teoria foi desenvolvida em um contexto de diversas transformações históricas, como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, que possibilitaram a plena ascensão da burguesia e, consequentemente, o surgimento de resistências organizadas do proletariado contra essa classe dominante. Assim, para sanar esse período de crises sociais, Comte propõe o positivismo, uma forma de organização social baseada em uma forte hierarquia, nomeada por ele de ordem, na qual cada indivíduo possui seu papel para a construção do coletivo, de forma que deve permanecer em seu lugar para que o todo funcione e deve compreender sua necessidade social, no lema de Comte: amor por princípio, no sentido de amar o coletivo e buscar ao bem comum por meio de seu papel na sociedade. E por fim, Comte defende a exclusividade do conhecimento científico para o progresso, de maneira que o desenvolvimento de novas tecnologias por meio da ciência é o que caracteriza o aprimoramento da sociedade.
Primeiramente, o
positivismo teve intensa influência histórica no Brasil, o que pode ser
percebido especialmente durante a transição da monarquia para a república.
Diante disso, a Proclamação da República foi baseada em uma ideia positivista
de progresso, no qual a sociedade foi “modernizada” sem que houvesse uma
ruptura social, com as classes sociais permanecendo inalteradas. Nesse sentido,
a atual bandeira do Brasil, confeccionada no início do período republicano, é o
símbolo desse positivismo, uma vez que carrega até mesmo as palavras “ordem e
progresso”, o lema positivista de Comte. Assim, essa herança positivista do
medo de transformações radicais e da necessidade de uma ordem se perpetuou
durante toda a história do Brasil republicano. Uma outra influência do
positivismo, nesse quesito, foi o apoio popular na instauração da ditadura
militar, já que o medo de uma suposta revolução comunista, de uma ruptura
radical, levou grande parcela da população a apoiar a “ordem”, vista no
contexto como assegurada pelos militares, a fim de garantir o “progresso”, especialmente
o desenvolvimento econômico.
Consequentemente,
o positivismo continua presente na sociedade brasileira e se encontra tão
intrínseco no pensamento de segmentos da sociedade que as pessoas muitas vezes
nem sabem que seu modo de pensar é positivista. A bandeira brasileira também
pode ser usada como símbolo do positivismo atual, uma vez que foi incorporada (e
até talvez monopolizada) por uma esfera política de direita, que defende
indiretamente as ideias de Comte. São variados os exemplos de acontecimentos
contemporâneos que podem ser associados ao positivismo, um deles é um pronunciamento
do ex-ministro da economia, Paulo Guedes, no qual ele demonstra que para ele
seria um absurdo empregadas domésticas visitarem a Disney. Essa visão contém a
ideia positivista de que o lugar social da empregada doméstica é outro, de
forma que ela não poderia usufruir de benefícios de classes mais elevadas na
hierarquia social, se não, a ordem, princípio positivista, seria rompida.
Assim, as ideias
positivistas se arraigaram historicamente e estão profundamente presentes no
Brasil atual, principalmente no que se trata à naturalização das desigualdades
sociais. Isso acontece porque, no positivismo, as classes sociais são tratadas
como princípios da sociedade e como imutáveis, de forma que está presente no
pensamento social brasileiro a resignação diante do lugar e do papel social,
como era defendido por Comte.
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