O Retorno Militar e a Morte do Positivismo
Uma das mais expressivas manifestações políticas do Positivismo no Brasil se deu como ideologia que guiou os militares no Golpe da República e que os fez estampar “ordem e progresso” na bandeira brasileira. Entretanto, essa conexão apenas se degenerou desde então com os militares fazendo uso dessa estética positivista, mas esvaziando-a completamente dos valores propostos por Augusto Comte, como a busca do progresso e do esclarecimento pela Ciência.
Embora tenha havido um ressurgimento dos militares na vida política brasileira, sobretudo a partir de 2018, esse retorno não trouxe consigo nada que possa ser reconhecido explicitamente como uma retomada positivista clássica e que marcou os primeiros governos militares. São vários os casos em que se trocou o progresso pelo conservadorismo retrógrado, a Ciência pelo obscurantismo e a racionalidade pela mitologia. Quando durante a pandemia, os laboratórios militares passaram a produzir cloroquina, contraindicada por diversos estudos e a comunidade científica em geral, ao invés de auxiliar nos esforços de produção de vacinas. Quando os oficiais escolheram compor um governo com pastores e não com cientistas, deixando de olhar para o futuro, mas ter saudade do passado, volta-se ao primeiro estado (teológico) de Comte.
Todavia, esta separação entre a corporação e a ideologia era iminente desde que não se incluiu uma terceira palavra na bandeira “amor”. A principal falha do Positivismo é sua dificuldade em compreender o indivíduo e suas necessidades pessoais e concretas, não conseguindo ver fora dessa escala de progresso abstrato da civilização. Assim, a ausência do “amor” estabeleceu essa falha crítica que descolaria o Positivismo da realidade e impediria sua manutenção a longo prazo. E que terminou, por fim, gerando esse movimento reacionário-militar dedicado exclusivamente com o individualismo genérico e empreendedor e a reprodução de uma moralidade conservadora.
Desta forma, analisando dialeticamente, foi a falha inicial do Positivismo que permitiu que o exército se tornasse quase que uma antítese do que pregava na bandeira, e esse movimento obscurantista um filho direto do Positivismo. A ordem não se manteve e o progresso nunca veio, somente o negacionismo e o saudosismo por um passado inexistente transformaram-se em seu legado para o Brasil. Quem sabe com mais “amor” e menos planos grandiosos para o futuro o resultado teria sido diferente?
Daniel Anuatti Reis - 1° ano de Direito (matutino)
RA: 231220197
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