Amor, Ordem e Progresso
O positivismo pode ser compreendido como
uma corrente filosófica que surgiu na França no início do século XIX. Foi idealizada pelos pensadores
Auguste Comte e John Stuart Mill, que defendiam o estudo da
sociedade através de fatos concretos, encarando-os como algo intrínseco à
evolução social. Por derivar do iluminismo, o positivismo defende o conhecimento científico e
metodológico como a única forma de conhecimento real.
Um dos principais lemas do
positivismo, cunhado por Comte, foi: “O
Amor por princípio e a Ordem por base. O Progresso por fim”, e a finalidade da
expressão era propor a evolução da sociedade de uma forma organizada. Assim, o
filósofo propunha que o amor deveria sempre ser o princípio de todas as ações
individuais e coletivas, a ordem consistia na conservação e manutenção de tudo
o que é bom e positivo, e o progresso seria o fruto do desenvolvimento e
aperfeiçoamento dessa ordem. No entanto, ao compreender as práticas históricas
e materiais das sociedades modernas e pós-modernas, tornam-se palpáveis os
apontamentos quanto às contradições
relacionadas ao uso de tal expressão e pensamento ao longo do tempo.
Os termos ressaltados pelo filósofo são
utilizados na bandeira do Brasil desde que este se tornou uma república, mas
sem a principal palavra, amor. Tal modificação veio do filósofo brasileiro
Raimundo Teixeira Mendes, que reafirmava as idéias de Comte sobre o domínio das
ciências pelo homem. No entanto, ao fazer o uso reajustado da frase
positivista, o Brasil desnuda um importante dado sobre a sua formação, essa
sendo a naturalização das mazelas históricas sofridas em seu território.
Segundo o educador Guilherme Terreri, “Hoje quando a gente lê ordem e progresso
na bandeira, talvez a gente esteja falando sobre massacre e imperialismo.” Ou
seja, acreditar que a sociedade evolui de forma natural deixa implícito que
fenômenos como a escravidão e a ditadura militra foram necessários para a
formação do país, e portanto, iniciativas como a política de cotas e a comisão
da verdade não têm utilidade, já que uma sociedade que visa apenas o progresso,
não possui mazelas e só caminha pra frente.
Portanto, conclui-se que o positivismo pode ser visto como
uma teoria dual, pois ao mesmo tempo que identifica que a sociedade deve ser
objeto de estudo, cria teorização e metodologia para as ciências humanas, e defende que o objetivo social seja o
progresso; acaba se tornando questionável justamente por propor que o
pensamento das humanidades seja construído a partir de um viés naturalista.
Geovanna Gonçalves
Peniche - 1° ano Direito (matutino)
RA: 231222874
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