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domingo, 9 de abril de 2023

As paixões funcionalistas atuais no organismo social

 Tema: A consciência coletiva de cada dia.

O estudo da influência que o coletivo provoca no indivíduo começa a ser instigado a partir da fundamentação das ciências modernas e suas consequentes correntes de pensamento ao longo dos anos. Nesse sentido, o desenvolvimento da pessoa humana e a necessidade do convívio em sociedade para a sobrevivência se deu por meio do compartilhamento de valores, crenças e normas, as quais auxiliam a prosperidade da cultura. Dentro disso, o sociólogo Émile Durkheim teorizou o conceito de consciência coletiva como resultado da socialização, evidenciando que a sociedade é moldada por fatores sociais, como a religião, a política e a educação. Logo, tal conceito supõe que a inserção coercitiva dos indivíduos no espaço da norma se dá por meio de uma essência heterônoma.

Com efeito, Durkheim distingue o ser individual como antagônico ao homem social, devendo aquele ser esmagado diante da coerção que emana da consciência coletiva. Dessa forma, as formas institucionais dos fatos sociais são constituidoras do ser social dos sujeitos, mantendo e reproduzindo a ordem social. Sob a égide do funcionalismo como estabelecedor de uma função que se liga a outra para todo fato social, a sobrevivência social se sobrepõe às paixões individuais a fim de que, em nome da coesão e harmonia em sociedade, se evite a anomia. Assim, o pensamento durkheimiano implica uma valorização dos processos sociais, concluindo que o indivíduo é o substrato do elemento coletivo, hipótese essa usada para justificar a exclusão de grupos marginalizados que não se encaixam nos lugares sociais herdados do positivismo.

Por conseguinte, a filósofa portuguesa Grada Kilomba, em desacordo com o sociólogo, defende que a ideia da mente grupal não é um conceito neutro ou universal, mas sim moldado pela opressão dos grupos que são historicamente enquadrados no espaço do silêncio. Ademais, a autora, enquanto negra que ocupa o ambiente acadêmico, destaca a tendência social de empurrar a compreensão de negros para o lugar de “não-fala”, questionando ainda se tal silêncio é igualmente um lugar social imposto para os brancos. Não obstante, a pensadora destaca o malefício da segregação de ideias que ultrapassa o físico, mostrando que há uma internalização das angústias nos silenciados, já que a visão moderna de ciência se concretizou pela colonização do conhecimento, permitindo a perpetuação das desigualdades atuais. Dessa forma, os oprimidos pelo aquilombamento do século XXI são estagnados em uma “margem” que torna-se um espaço símbolo de resistência aos regulamentos tiranos, desafiando a base de poder existente e priorizando ideais que contribuam para a criação de uma sociedade mais justa e equitativa.

Portanto, a consciência coletiva de cada dia se dá na forma de uma coerção social que recai nas vítimas do mal do silêncio do colonizado. A tentativa do apagamento de compreensão de mundo é imposta a partir da visão específica colocada como a voz universal que vale para todos, atualmente dominada pelas diversas hierarquias do positivismo propagado pelo método científico mascarado como neutro, mas recheado com o discurso opressor. Desse modo, percebe-se que a consciência social é multifacetada e complexa e hoje envolve o entendimento de princípios, convicções e regras inflamadas pela visão dominante, desvirtuando-se do ideal do convívio geral justo e igualitário, no qual haja oportunidade de todos viverem de forma digna e respeitosa, possibilitando novas formas de pensamento e ações, incluindo a valorização das histórias e culturas marginalizadas.

Sophya Helena Batazuos Resende Bastianini de Souza - RA: 231224771

1º ano de Direito (noturno)

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